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Mostrando postagens de setembro, 2013

Ações do papa Francisco são herança de experiência jesuítica na América

Por Umberto Eco O papa Francisco é um jesuíta que assumiu um nome franciscano e é a favor de se hospedar em hotéis simples, em vez de acomodações mais luxuosas. Tudo o que resta para ele é vestir um par de sandálias e um hábito de monge, expulsar do templo os cardeais que andam de Mercedes e voltar à ilha siciliana de Lampedusa para defender os direitos dos imigrantes africanos detidos lá. Às vezes, parece que Francisco é a única pessoa restante que diz e faz "coisas de esquerda". Mas ele também é criticado por não ser esquerdista o suficiente: por não se manifestar publicamente contra a junta militar na Argentina nos anos 70; não apoiar a teologia da libertação, que visa ajudar os pobres e oprimidos; e não fazer pronunciamentos definitivos sobre o aborto ou pesquisa de célula-tronco. Logo, qual é exatamente a posição do papa Francisco? Primeiro, eu acho errado considerá-lo um jesuíta argentino; talvez seria melhor pensarmos nele mais com um jesuíta paraguaio. Afinal,

A soberania dos Ministros Supremos

Por Jeová Barros Almeida Júnior Volto a levantar âncora, para singrar nesses mares, já dantes navegados, nesse tempo em que os princípios revogam o que a lei determina, a torto e a direito, e o STF chega a dizer que a Constituição é aquilo que ele diz ser. Vejamos. A história nos conta que, em 1789, a plebe francesa, cansada dos desmandos e das arbitrariedades do rei Luis XVI, se rebelou, prendeu a ele e a Rainha Maria Antonieta e os guilhotinou. A plebe, esclarecida com as novas idéias do Iluminismo, queria um governo de leis, e não um governo dos homens . Os abusos cometidos pela dinastia dos Bourbon (reis franceses), tão comum nas monarquias daqueles tempos, consistia, mais ou menos, no seguinte: havia uma lei para os nobres e outra para a patuléia. Por exemplo, se um nobre fosse pego afanando alguma coisa, a pena dele seria, digamos, 4 meses longe de Paris (longe das festas, do luxo dos palácios), enquanto que a pena para o pobre coitado, caso fosse pego roubando um pão, se

Depois do Saddam, o pré-sal: O governo trata Libra como se fosse uma padaria ou pizzaria

Entrevista de Ildo Sauer Professor titular da USP e um dos mais reconhecidos cientistas brasileiros na área de energia, Ildo Sauer foi diretor de gás e energia da Petrobras durante o primeiro governo Lula. Nessa entrevista, critica o leilão de Libra e propõe um modelo alternativo. P: Como você avalia o modelo criado pelo Brasil para exploração e utilização dos recursos do pré-sal? O país vai utilizar bem essa riqueza? R: Não. O modelo de concessões formulado pelo governo neoliberal de FHC, numa época em que ainda se justificava no discurso a possibilidade de um risco genérico exploratório para encontrar petróleo, não era o melhor. Naquele tempo, o modelo adequado seria a partilha da produção, com a Petrobras comandando. Eu defendi transformar concessão em partilha. No momento em que se conclui com sucesso a definição de uma nova província de petróleo no pré-sal, nem o modelo de concessão nem o de partilha servem. Quando já há uma confirmação de sucesso e com pouco investime

Uma nova universidade está sendo pensada... e implantada

Entrevista com Naomar Monteiro Filho , reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia “O aluno não precisará sair de sua cidade para a UFSB” Naomar Monteiro de Almeida Filho, médico de Itabuna, ex-reitor da Universidade Federal da Bahia e hoje Reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), ao abordar o sistema de colégios universitários. Naomar deu entrevista exclusiva ao jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra Dois (quartas, 15h), na rádio Morena FM 98.7, onde falou de seus planos para a UFSB, como serão os cursos (montados de uma maneira inovadora) e quais poderão ser cursados na universidade. A entrevista foi publicada pelo Jornal "A Região". A entrevista é de 24 de agosto. A UFBA é antiga e tinha seus problemas. Como foi ser reitor por lá? Assumi a reitoria em 2002. Tivemos constante crescimento, mas no serviço público federal há muitos descompassos. As vezes tem recursos e não tem projetos, ou vice-versa. Mas fizemos algumas “mágicas”, porque a e

Para entender o caso das APAES

Por Eugenia Gonzaga Por lobby político, Gleise atropela Constituição e Convenção da ONU A função primordial da Casa Civil, tida como o primeiro entre os ministérios, é assistir a presidência da República na coordenação e na integração das ações do Governo, bem como na verificação prévia da constitucionalidade e legalidade dos atos presidenciais.  Por tudo isso, causa espanto que, na página oficial em que se definem as funções acima, a Ministra Gleise Hoffmann tenha publicado uma nota oficial em que garante que irá descumprir a Constituição brasileira e a Convenção da ONU sobre direitos de pessoas com deficiência. Diz a nota que ela já "acertou" isso com o relator do Plano Nacional de Educação - PNE. Com uma falta de técnica inaceitável para uma nota oriunda da Casa Civil, garante que a inclusão escolar ocorrerá apenas "preferencialmente" na rede básica. Ao negar categoricamente a inclusão escolar como direito fundamental das crianças com deficiência e també

A Atualidade Brutal de Hannah Arendt

Por Ladislau Dowbor O filme causa impacto. Trata-se, tema central do pensamento de Hannah Arendt, de refletir sobre a natureza do mal. O pano de fundo é o nazismo, e o julgamento de um dos grandes mal-feitores da época, Adolf Eichmann. Hannah acompanhou o julgamento para o jornal New Yorker, esperando ver o monstro, a besta assassina. O que viu, e só ela viu, foi a banalidade do mal. Viu um burocrata preocupado em cumprir as ordens, para quem as ordens substituíam a reflexão, qualquer pensamento que não fosse o de bem cumprir as ordens. Pensamento técnico, descasado da ética, banalidade que tanto facilita a vida, a facilidade de cumprir ordens. A análise do julgamento, publicada pelo New Yorker, causou escândalo, em particular entre a comunidade judaica, como se ela estivesse absolvendo o réu, desculpando a monstruosidade. A banalidade do mal, no entanto, é central. O meu pai foi torturado durante a II Guerra Mundial, no sul da França. Não era judeu. Aliás, de tanto falar em jude