Entrevista com Jorge Dimitrov, durante o 7º Congresso da Internacional Comunista conclama a unidade popular contra o fascismo.
Por Augusto Buonicore *
Um texto bem atual. Não podemos baixar
a guarda para o fascismo, que mostrou suas garras nas recentes manifestações no
Brasil: O Plínio Salgado, infelizmente não é "coisa" do passado. A
democracia deve ser defendida e aprofundada. Como disseram é preciso democratizar
a democracia.
O ambiente do lado de fora daquele
imenso salão, onde acabava de se reunir a plenária final do 7º Congresso da
Internacional Comunista, estava bastante agitado e tomado por um esfuziante
otimismo - como se a esperança tivesse vencido o medo. Os delegados de vários
países se despediam e se desejavam boa sorte. Mas, infelizmente, muitos deles
não poderiam deixar o solo soviético porque seus países eram como pátrias
ocupadas por um exército invasor. Lá o fascismo havia chegado ao poder e
esmagado todo e qualquer vestígio de liberdade democrática. Entre aqueles
rostos variados, representando quase todos os povos da terra, também era
possível notar a ausência de vários dirigentes comunistas como Gramsci e
Thaelmann, que padeciam em prisões fascistas.
O jovem jornalista
brasileiro não conseguia esconder seu nervosismo – e certa ponta de orgulho -
por estar na presença daqueles que eram, segundo ele, os representantes da
vanguarda do proletariado mundial. O seu objetivo era conseguir uma entrevista
exclusiva com o presidente da Internacional e o responsável pela apresentação
do principal informe daquele conclave memorável: Jorge Dimitrov.
Dimitrov havia se
tornado mundialmente conhecido quando, em 1933, no Tribunal da Leipzig
enfrentou de maneira altiva às falsas acusações nazistas de que os comunistas
haviam incendiado o Reichstag. Passado poucos anos já era, ao lado de Stalin,
uma das figuram mais conhecidas e respeitadas do movimento comunista
internacional. Era justamente este homem que, pretensiosamente, pretendia
entrevistar e, talvez, trocar algumas impressões sobre o quadro mundial.
Um funcionário franzino
e muito amável conduziu-o até a sala da presidência e num espanhol arrastado
pediu que esperasse um pouco. Cerca de meia hora depois – um tempo infindável
para aquele rapazote, mas uma fração de tempo insignificante para a revolução
mundial – entrou na sala o eminente dirigente comunista acompanhado do
interprete, o mesmo funcionário que o conduzira até ali.
Sentaram-se num amplo e
confortável sofá. Dimitrov, calmamente, deu uma grande tragada em seu cachimbo
e uma fumaça de aroma suave tomou conta do salão. Depois olhou, com um ar
paternal, o inseguro jornalista e exclamou sorridente: “vamos começar a
entrevista?! Afinal, é para isso que estamos aqui”. Sim, era para isso que
estavam ali. O jovem pigarreou e, quase balbuciando, deu início às primeiras
perguntas. Este 20 de agosto de 1935 seria, definitivamente, seu dia de glória.
Respirou fundo e começou apresentar suas perguntas.
Jornalista: O principal informe desse congresso versou sobre o fascismo
e a necessidade e os meios de combatê-lo. Por que isso? O fascismo não
representa apenas uma simples mudança na forma de dominação burguesa? Então,
por que colocá-lo como o “pior inimigo da classe operária”?
Dimitrov: A subida do
fascismo ao poder não é uma simples mudança dum governo burguês, mas sim, a
substituição de uma forma estatal de dominação de classe da burguesia – a
democracia burguesa – por outra das suas formas, a ditadura terrorista
declarada. Ignorar essa diferença seria um grave erro, que impediria o
proletariado revolucionário mobilizar as mais amplas camadas de trabalhadores
da cidade e do campo contra a ameaça de tomada de poder pelos fascistas, assim
como tirar proveito das contradições existentes no seio da própria burguesia.
Jornalista: O que representa o fascismo no poder? Existem diferenças
entre os diversos tipos de fascismo na atualidade?
Dimitrov: O fascismo é a
ditadura terrorista aberta dos elementos mais chauvinistas e mais imperialistas
do capital financeiro. A sua variedade mais reacionária é o alemão. Este atua
como tropa de choque da contra-revolução internacional, como incendiário
principal da guerra imperialista, como instigador da cruzada contra a União
Soviética.
Jornalista: O que permitiu que o fascismo chegasse ao poder em tantos
países? Qual responsabilidade cabe aos sociais democratas e comunistas?
Dimitrov: Os motivos são
vários. O fascismo chegou ao poder, antes de mais nada, porque a classe
operária achava-se dividida, desarmada
política e organicamente frente a burguesia que partia para a ofensiva.
Triunfou também porque o proletariado se encontrava isolado dos aliados
naturais, os camponeses e a pequena-burguesia urbana. Quanto às
responsabilidades da social-democracia só tenho a dizer que: se no ano de 1918,
quando a revolução explodiu na Alemanha e na Áustria, o proletariado tivesse
marchado pelo caminho dos bolcheviques russos, hoje não haveria fascismo. Não
seria a burguesia, mas sim, a classe operária, a dona da situação na Europa.
Nas nossas fileiras, por outro lado, existia a inconcebível subestimação do
perigo fascista que, até o presente momento, não foi liquidado.
Jornalista: Teria predominado o esquerdismo e o sectarismo nas fileiras
comunistas?
Dimitrov: Sim! O
esquerdismo entre nós já não é uma “doença infantil”, como dizia Lênin, mas um
vício arraigado, e sem nos livrarmos dele não poderemos criar uma Frente Única
proletária. Na situação atual, o sectarismo
orgulhoso, satisfeito da sua estreiteza doutrinária, satisfeito com seus
métodos simplistas para tentar resolver problemas complicados sobre a base de
esquemas cortados por um modelo pronto, distanciado da vida real das massas,
entorpece nosso esforço de construir a Frente Popular.
Jornalista: A partir da experiência histórica acumulada, você acha que
era possível ter impedido a ascensão do fascismo?
Dimitrov: Isso dependia
antes de tudo da combatividade e da coesão das suas forças proletárias contra a
ofensiva do capital e do fascismo. Dependia de uma política justa em relação
aos seus aliados naturais: o campesinato e a pequena-burguesia urbana. Dependia
da ação do proletariado, não deixando ao fascismo a iniciativa; dando-lhe
golpes decisivos, fazendo-lhe frente a cada passo e não permitindo-lhe
conquistar posições. Advirto ainda que, atualmente, não devemos alimentar
ilusões de que o fascismo cairá por si mesmo. Só a atividade revolucionária da
classe operária contribuirá para que os conflitos que surgem inevitavelmente no
campo da burguesia sejam aproveitados para minar a ditadura e derruba-lo.
Jornalista: Depois de anos de ásperos conflitos, a Internacional
Comunista sinalizou para uma aproximação com a II Internacional. Parece-me que
isto é uma tática justa para enfrentar a ofensiva do fascismo mundial. Mas isto
não seria tarde demais? A simples somatória dos membros das duas internacionais
seria ainda suficiente para barrar a onda reacionária?
Dimitrov: Declaramos que
a Internacional Comunista e as suas sessões estão dispostas a entrar em
negociações com a II Internacional e as suas sessões respectivas para a criação
da unidade da classe operária na luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo
e contra a ameaça de uma guerra imperialista. Acredito que as ações conjuntas
das ambas internacionais não se limitariam a exercer influência sobre os seus
atuais membros, exerceriam também uma influência poderosa nas fileiras dos
operários católicos, anarquistas e não-filiados, inclusive sobre aqueles que,
momentaneamente, têm sido vítimas da demagogia fascistas. Ainda mais, a potente
Frente Única do proletariado exerceria uma enorme influência sobre todas as
demais camadas do povo trabalhador; sobre os camponeses, sobre a pequena
burguesia urbana e sobre os intelectuais.
Jornalista: Existiu resistência dos comunistas em trabalhar junto com
os social-democratas e estabelecer um programa mínimo de ação conjunta?
Dimitrov: Antes, muitos
comunistas temiam que fosse uma manifestação de oportunismo de sua parte o fato
de não contrapor a cada reivindicação parcial dos social-democratas as suas
próprias reivindicações duas vezes mais radicais. Isso era um erro ingênuo. Se
os social-democratas reclamavam, por exemplo, a dissolução das organizações
fascistas, nós não temos porque ajuntar “e a dissolução da polícia do Estado
também”. Deveríamos dizer aos operários, em vez disso: estamos dispostos a
aceitar esta reivindicação do vosso partido como reivindicação da Frente Única
do proletariado e lutar até o fim para conquistá-la. Empreendamos a luta
juntos!
Jornalista: Qual é a grande tarefa do movimento comunista no presente
momento?
Dimitrov: Temos como
tarefa especialmente importante a criação de uma extensa frente popular
antifascista sobre a base da Frente Unida proletária. O êxito da luta do
proletariado está intimamente ligado à criação da aliança do proletariado com o
campesinato trabalhador e com as massas mais importantes da pequena burguesia
urbana, que formam a maioria da população, inclusive nos países industrialmente
desenvolvidos.
Jornalista: Poderia exemplificar esta idéia em propostas concretas para
alguns países?
Dimitrov:
Exemplifico. No caso dos Estados Unidos
poderia ser a criação de um partido de massas dos trabalhadores, partido de
operários e pequenos proprietários rurais (os farmers). Esse partido seria uma
forma específica de frente popular de massas na América do Norte. Ele não será naturalmente, nem socialista nem
comunista. Mas, teria que ser um partido antifascista. Na Inglaterra, por
exemplo, estamos dispostos a apoiar a formação de um governo trabalhista. Não
esperamos dele que realize medidas socialistas e sim que defenda os interesses
econômicos e políticos dos trabalhadores e faça frente à ofensiva do capital e
do fascismo e à preparação de uma nova guerra imperialista.
Jornalista: Isso não faria os comunistas perderem a sua fisionomia e
serem tragados pelo possibilismo reformista social-democracia?
Dimitrov: Este é sempre
um risco. Por isso os comunistas não podem renunciar, nem por um minuto, ao seu
trabalho próprio e independente de educação comunista, de organização e
mobilização das massas. Sem abrir mão de firmar acordos de curto e longo prazo
sobre ações comuns com os partidos social-democratas, os sindicatos reformistas
e as demais organizações dos trabalhadores contra os inimigos da classe
operária. Ao mesmo tempo em que cumprimos lealmente as condições de acordos
firmados com eles, desmascararemos implacavelmente qualquer sabotagem cometida
contra as ações conjuntas por aqueles que tomam parte na Frente Única.
Jornalista: Até hoje os comunista têm se recusado a apoiar e participar
de governos nos marcos do capitalismo. Eu pergunto: se nas atuais condições se
formassem governos antifascistas - de caráter não socialista - os comunistas
estariam dispostos a apoiar e até participar deles?
Dimitrov: Por exemplo,
se o movimento antifascista na França levasse à formação de um governo que
lutasse contra o fascismo de modo efetivo; um governo que pusesse em prática o
programa de reivindicações de frente popular antifascista, os comunistas, sem
deixarem de serem partidários dos poder soviético, estariam dispostos, ante o
crescente perigo fascista, apoiar tal governo. Vou mais longe: Se nos perguntam
se nós, comunistas, lutamos sobre o terreno da frente unida somente por
reivindicações parciais ou estamos dispostos a compartilhar as
responsabilidades caso se atinja a formação de um governo de frente unida,
diremos, com plena consciência de nossas responsabilidades: sim!, ... se
produzir uma situação na qual a criação de um governo de frente popular
antifascista seja não somente possível mas indispensável, no interesse do
proletariado, aceitamos esta eventualidade e, sem nenhuma vacilação, nós nos
declaramos à favor da criação desse governo.
Jornalista: Esta proposta de governo de Frente Popular não pode se
confundir com as teses reformistas de uma possível “transição pacífica ao
socialismo”, através da legalidade democrática burguesa? Falar em se buscar
“formas de transição” e de “aproximação” não é cair na velha cantinela
reformista e romper com as teses leninistas?
Dimitrov: Bobagem! Há 15
anos, Lênin nos convidava a concentrar toda a atenção em “buscar formas de
transição ou de aproximação da revolução proletária”. Pode ocorrer que o
governo da Frente Única seja, numa série de países, uma das formas transitórias
mais importantes. Os doutrinários de “esquerda” sempre menosprezam esta
importante indicação de Lênin, falando somente do “objetivo”, como
propagandistas limitados, sem preocupação com as “formas de transição”. Por
outro lado, os oportunistas de direita (reformistas) tentaram estabelecer uma
“fase democrática intermediária”, especialmente entre a ditadura da burguesia e
a ditadura do proletariado para sugerir à classe operária a ilusão de uma
passagem parlamentar pacífica de uma ditadura para outra. A esta “fase
intermediária”, “fictícia”, a chamavam também “forma de transição” e inclusive
invocavam o nome de Lênin. Mas não foi fácil cobrir a fraude, pois Lênin falava
de uma forma de transição e de aproximação da “revolução proletária”, isto é da
derrubada da ditadura burguesa e não de uma forma transitória qualquer entre a
ditadura burguesa e a proletária.
Jornalista: Como fica o Partido no seio da Frente Única? Deve reduzir
sua visibilidade para não estreita-la? Deve se utilizar dela para crescer suas
fileiras?
Dimitrov: Quando nós
comunistas fazemos todos os esforços para estabelecer a Frente Única, não o
fazemos de um ponto de vista mesquinho de recrutamento de novos filiados para o
Partido Comunista. Mas, precisamente, porque queremos fortalecer seriamente a Frente
Única, devemos fortalecer também, em todos os aspectos, o Partido Comunista e
aumentar seus efetivos. O fortalecimento dos partidos comunistas não representa
os interesses limitados do partido, mas sim, um interesse de toda classe
operária. De fato existem nas nossas fileiras camaradas que defendem a
diminuição do papel do Partido Comunista na Frente Única e passam a conciliar
com a ideologia social-democrática. Este desvio de direita também deve ser
duramente combatido.
Jornalista: O movimento sindical é a base de qualquer projeto bem
sucedido de Frente Única do proletariado e hoje ele está bastante dividido.
Qual a saída?
Dimitrov: Saudamos a
proposta da Internacional Sindical Vermelha à Internacional de Amsterdã de
iniciar a discussão conjunta sobre as condições, os métodos e as formas de
unificação do movimento sindical mundial. Defendemos que os pequenos sindicatos
vermelhos se integrem aos grandes sindicatos reformistas, ligados à Central
social-democrata. Nos países que existem grandes sindicatos vermelhos e
reformistas conclamamos a convocação de congressos de unificação sobre uma
plataforma de luta contra a ofensiva do capital e a salvaguarda da democracia
sindical.
Jornalista: E nos países sob a dominação fascista, onde não existe
liberdade sindical e os sindicatos são meros aparelhos do Estado? Neste caso
como pensar em construir um embrião de unidade proletária antifascista?
Dimitrov: Aqui seguimos
os ensinamentos de Lênin. Para os comunistas dos países fascistas é de capital
importância estar em todas as partes onde estão as massas. O fascismo retirou
dos operários as suas próprias organizações legais, O fascismo impôs-lhes as
organizações fascistas por meio da violência e nestas encontram-se, seja pela
força ou, em parte, voluntariamente. Estas organizações de massa do fascismo
podem e devem ser o nosso campo legal de operação, a partir do qual entraremos
em contato com a massa. Quem não compreende a necessidade de empregar uma
tática semelhante com respeito ao fascismo, quem considera tal atuação
‘humilhante’, poderá ser um excelente camarada, mas, se me permitam que o diga,
é um charlatão e não um revolucionário; ele não saberá conduzir as massas para
a derrubada da ditadura fascista.
Jornalista: Por fim gostaria de abordar uma questão sempre delicada
para os comunistas e internacionalistas: a questão nacional. Os fascistas, me
parece, usaram e abusaram dela na sua demagogia para ganhar as massas
populares. Qual deveria ter sido a posição dos comunistas diante desse problema
crucial?
Dimitrov: É verdade. Os
fascistas revolveram a história de cada povo para apresentarem-se como herdeiro
e continuadores de tudo que havia de heróico no seu passado. Os comunistas
acabaram, inconscientemente, contribuindo para isto. Assim, aqueles que não fazem
nada para esclarecer ante as massas trabalhadoras o passado do seu próprio
povo, com toda fidelidade histórica e sob a perspectiva marxista-leninista, e
não buscam ligar a luta atual com as tradições revolucionárias do passado,
entregam voluntariamente aos falsificadores fascistas tudo o que há de valioso
no passado histórico da nação. Nós, os comunistas, devemos ser inimigos
irreconciliáveis do nacionalismo burguês, mas quem pensa que isto lhes permite
cuspir na cara de todos os sentimentos nacionais das massas trabalhadoras, está
muito longe do bolchevismo e não compreendeu nada dos ensinamentos de Lênin
sobre o problema nacional. O internacionalismo proletário deve “aclimatar-se” a
cada país e lançar raízes profundas no solo natal. As formas nacionais, de que
se reveste a luta proletária em cada país, não estão em contradição com o
internacionalismo proletário, mas ao contrário, é precisamente sob estas formas
que se pode defender também, com êxito, os interesses internacionais do
proletariado.
Jornalista: A mesma coisa você poderia dizer sobre as conquistas
democrático-burguesas?
Dimitrov: Exatamente.
Nós somos partidários da democracia soviética, da democracia dos trabalhadores,
a democracia mais conseqüente do mundo. Mas, defendemos nos países capitalistas,
palmo a palmo, as liberdades democrático-burguesas contra as quais atentam o
fascismo e a reação burguesa. Nós não somos anarquistas e não nos pode ser, de
maneira alguma, indiferente qual regime político impera num dado país; se a
ditadura burguesa em forma de democracia burguesa ou a ditadura burguesa, na
sua forma mais descarada, fascista. Sem deixarmos de ser partidários da
democracia soviética, defenderemos palmo a palmo as condições democráticas
arrebatadas pela classe operária durante anos de luta acirrada e lutaremos
decididamente por ampliá-las. O proletariado de todos os países verteu muito
sangue para conquistar as liberdades democrático-burguesas e, é óbvio, que lute
com todas as suas forças para conservá-las.
Jornalista: Qual seria a sua última mensagem ao proletariado do Brasil
e do mundo?
Dimitrov: Que não
desanimem diante do quadro mundial adverso. Lembrem-se sempre que a seu favor
trabalha toda a marcha do desenvolvimento histórico. Os reacionários, os
fascistas de todas as cores, a burguesia do mundo inteiro se esforçam em vão
para voltar para trás a roda da história. Mas esta roda gira e continuará
girando em direção da vitória definitiva do socialismo. Entretanto ainda falta
uma coisa: a unidade dentro de suas fileiras proletarias. Por isso devemos
fazer ressoar com força, no mundo inteiro, o grito de guerra da Internacional,
o grito de Marx, Engels e Lênin: “proletários de todos os países, uni-vos!”.
A entrevista chegou ao
final. Entrevistado e entrevistador já cansados despediram-se com um longo e
caloroso aperto de mão. Dimitrov desejou sucesso ao proletariado brasileiro e
ao seu partido, o Partido Comunista do Brasil. Vaticinou sorridente a breve
derrocada do nazi-fascismo. Carlos – este era o seu nome - sabia que inúmeras e
grandiosas tarefas esperavam aquele dirigente da Internacional e não queria
mais atrapalhá-lo. O seu pensamento, rapidamente, voou até seu distante Brasil.
Lembrou-se da Batalha na Praça da Sé, ocorrida no ano anterior, na qual o povo
pôs para correr os integralistas e também dos primeiros comícios da Aliança
Nacional Libertadora. O pessimismo, que chegou a atormentar seu espírito
indomável, foi dissipado naqueles dias em Moscou. O futuro, definitivamente,
não pertenceria ao fascismo.
Moscou – 20 de agosto de 1935
Notas
1: Esta
entrevista não foi publicada no Brasil. Quando Carlos estava na URSS o governo
Vargas aprovou a Lei de Segurança Nacional e fechou a Aliança Nacional
Libertadora. Um mês após a sua chegada uma insurreição, comandada por Prestes,
foi derrotada e nosso jovem repórter, ao lado de milhares de outros cidadãos,
foi encarcerado. Dizem que, mesmo assim, ele não perdeu a esperança e continuou
repetindo: “o futuro não pertencerá ao fascismo”.
2: O
jornalista e a entrevista nunca existiram, mas as respostas de Dimitrov foram
extraídas do seu famoso informe “A Ofensiva do fascismo e as tarefas da
Internacional Comunista”, pronunciado em
4 de agosto de 1935.
* Historiador,
mestre em ciência política pela Unicamp
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