Por Francisco Bosco, do Jornal Minuano
Bagé prometeu e atendeu
o chamado das centrais sindicais à greve geral do país. Servidores saíram às
ruas para demonstrar frustração com reajuste salarial aceito pelo próprio
sindicato.
A unificação de representantes de diversas
categorias marcou a manifestação, realizada na manhã de ontem. Esta foi a
quarta greve geral, desde a Independência, em 1822. A paralisação acontece na
esteira das manifestações populares que levaram milhões de brasileiros às ruas
em junho.
Convocada pelas oito
maiores centrais sindicais do Brasil (entre elas a Central Única dos
Trabalhadores – CUT e Força Sindical), o movimento batizado como “Dia Nacional
de Lutas” busca pressionar as três esferas do governo para que atendam às
reivindicações dos trabalhadores, reunidas numa pauta única. Além da
paralisação, foram realizadas marchas e manifestações em várias cidades do
país.
No município, a adesão
foi grande, com representantes de diversos sindicatos, entre os quais Cpers,
Sindicato dos Bancários de Bagé e Região, Seção Sindical dos Docentes da
Universidade Federal do Pampa (Sesunipampa), Sindicato dos Trabalhadores
Técnico-administrativos em Educação da Universidade Federal do Pampa
(Sindipampa) e técnicos e docentes do Instituto Federal Sul-riograndense
vinculados ao Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica (Sinasefe) e Sindicato dos Trabalhadores em Correios
e Telégrafos do RS (Sintect).
EBCT
Os funcionários dos
Correios aderiram às manifestações e paralisaram as atividades durante todo o
dia. Segundo o diretor do Sintect, Bolívar Rangel, cerca de 95% do efetivo
paralisou as atividades. Aproveitando o momento de luta convocado pelas
centrais sindicais do país, a categoria levantou a pauta com reivindicações
próprias, como a urgência nas 30 mil contratações em todo Brasil, melhorias nas
condições de trabalho e repúdio à privatização dos planos de saúde dos
funcionários, além da possibilidade de corte do benefício auxílio-creche.
Rangel explicou que
esses temas serão abordados no próximo mês, quando iniciam as negociações do
dissídio da categoria. Mas adiantou que se não houver bom-senso nas
negociações, os funcionários devem paralisar. “Agosto é nossa data-base, vamos
começar a negociar. Mas há fortes indícios de que vem uma greve geral dos
Correios por aí”, afirmou.
Municipários
Após quase um mês de
greve, realizada em maio deste ano, os funcionários públicos municipais
voltaram às ruas, porém agora não estavam representados pelo Sindicato dos
Municipários de Bagé (Simba).
Inconformados com o
resultado das negociações da entidade com o poder público, os próprios
servidores criaram um grupo de oposição ao Simba. Márcia Ximendes, uma das
integrantes, explicou que a mobilização dos funcionários foi pensada justamente
para dar voz a esta indignação.
Conforme explica, o
aumento de 40% no vale-alimentação ainda não foi repassado aos servidores e o
pagamento do retroativo será pago em sete vezes. Para muitos, essa diferença
não é superior a R$ 20 no salário. “Que sindicato é este que aceita uma
proposta de parcelamento de um direito do trabalhador em sete parcelas, sem ao
menos consultar a categoria?”, questiona.
Para a servidora Cármen
Lúcia Moreira Silva, é injustificável a ausência da entidade no protesto. “Em
uma manifestação organizada por centrais sindicais dos trabalhadores, por que o
sindicato ficou fora do movimento? Só temos representação dos funcionários aqui
porque nós (oposição ao Simba) realizamos um chamamento para todos
participarem”, conta.
No boletim oficial da
prefeitura, a coordenadoria de comunicação informou que o vice-prefeito Carlos
Alberto Fico recebeu, na manhã de ontem, um grupo de servidores públicos que
reivindicavam melhoras no piso municipal e manifestavam que o Simba não os
comunicou do acordo feito com ao Executivo, sobre o parcelamento do retroativo.
A conversa aconteceu na frente da Prefeitura de Bagé. De acordo com a nota,
Fico afirmou aos presentes que o governo está preocupado com a valorização dos
servidores, por isso está trabalhando no plano de carreira do funcionalismo.
Em entrevista por
telefone ao Jornal MINUANO, a presidente do sindicato, Mariley Corrêa,
classificou a participação do Simba no protesto como desnecessária, já que muitos
setores não paralisaram as atividades. “Eu já havia falado que só iria
participar se tudo parasse na cidade. Como não foi o caso, entendemos que não
havia por que interromper o trabalho, mas respeitamos e nos solidarizamos com a
luta de quem parou”, define.
Mariley comentou ainda
que, no momento, está focada apenas na elaboração do plano de carreira dos
municipários, uma das principais reivindicações da categoria durante a greve.
“Estamos convidando um representante de cada secretaria para participar das
reuniões sobre o plano de carreira. É assim que se constrói, trabalhando sério
e juntos, e não com ofensas e críticas”, comentou ela, referindo-se ao grupo de
oposição.
Cpers
Levantando a bandeira de
luta do pagamento do piso, o Cpers novamente saiu às ruas para cobrar das
autoridades maiores investimentos na educação. A presidente do 17º núcleo do
sindicato, professora Ana Lúcia Cabral, encabeçou a manifestação, que saiu da
Praça Carlos Telles, parou em frente à prefeitura e a 13º Coordenadoria Regional
de Educação (CRE) e se dispersou na Praça Esporte.
Puxando o coro dos
gritos de luta, a professora cobrou, além do pagamento imediato do piso para os
profissionais do magistério, o passe-livre para os estudantes e o investimento
de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) na educação.
Ana Lúcia adiantou ainda
que se o governo estadual não sinalizar boa-vontade em cumprir a lei e pagar o
piso, a categoria irá paralisar as atividades e os alunos ficarão sem aula após
as férias. “Se o povo está na rua, é culpa da política nacional que beneficia
os grandes empresários e quem paga a conta somos nós, trabalhadores”, afirmou.
Unipampa
Cléver Leitzke,
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação
da Universidade Federal do Pampa (Sindipampa) também participou da
manifestação. Ele contou que além da pauta nacional de reivindicações, também
foi às ruas para garantir o cumprimento das exigências dos técnicos, como a
implementação da carga horária de 30 horas semanais e a conclusão da estrutura
do Campus de Bagé. De acordo com os dados fornecidos por Leitzke, cerca de 40%
dos servidores paralisaram as atividades.
Professor Hélvio Rech, presidente da Seção Sindical dos Docentes da
Universidade Federal do Pampa (Sesunipampa), comentou a importância da
colaboração entre todas as categorias em um movimento deste porte. “É
fundamental a unidade de todos os setores da sociedade civil. Só assim vamos
conseguir implementar uma reforma política efetiva para melhorar a situação do
país”, afirmou.
Bancários
O Sindicato dos
Bancários de Bagé e Região também se fez presente na manifestação geral. O
presidente da entidade, Nílton Dias, não soube precisar o número de
trabalhadores de empreendimentos bancários da região que aderiram à greve
geral, mas afirmou que a intenção da participação foi endossar a pressão
popular para que a esfera federal acate as reivindicações feitas pelo movimento
nacional. “Aderimos à mobilização para pressionar a presidente a acatar a pauta
entregue, exigindo o fim do fator previdenciário e do projeto de lei 4330 (que
permite a terceirização da atividade-fim das empresas)”, disse.
Durante o dia, as
agências bancárias trabalharam de forma parcial, com o quadro de funcionários
reduzido.
Reivindicações
Nas manifestações por
todo o país, diversas foram as bandeiras de luta levantadas. Mas um ponto em
comum foi a pauta de reivindicações elaborada pelas centrais sindicais,
entregue para a presidência.
Entre as principais
exigências estão: fim do fator previdenciário; 10% do orçamento da União para o
SUS (Sistema Único de Saúde); 10% do PIB para a educação pública; jornada de 40
horas semanais, sem redução dos salários; transporte público de qualidade com
valores acessíveis à população; auditoria nas grandes obras públicas; reforma
agrária e suspensão dos leilões de petróleo.
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