Por Diego Escribano
Há décadas que o
Consenso de Washington ostenta uma posição dominante com pretensão de modelo
único, universal. Os governos de Reagan e Thatcher marcaram o caminho para todo
o mundo.
Privatizações,
desmantelamento dos serviços públicos, menos impostos para os mais poderosos,
decadência das classes médias. "Década perdida” na América Latina.
Absolutismo de mercado de resultados duvidosos.
Segundo a informação que
conhecíamos em 2011, a desigualdade nos países da OCDE alcançava a sua cota
mais alta nas últimas décadas. Uma elite se beneficiou de um sistema que
favorece, que lhe permite dar renda solta na sua avareza. Em tempos de
globalização, a elite é global, alguns poucos de cada lugar se beneficiam.
Rússia e Brasil
acrescentam cada vez mais multimilionários às listas anuais.
Grupos de pessoas,
elites, trabalham para render culto ao seu deus, o dinheiro. O lucro máximo. Os
mercados são cidadãos com a capacidade de influir, de coagir. Com nomes e apelidos.
Com interesses pessoais.
Utilizam distintos
mecanismos para o seu benefício, enfrentando o bem-estar da imensa maioria.
As agências de
qualificação podem realizar predições equivocadas e enviesadas, mas conseguem
exercer uma pressão efetiva. A pressão dos mercados, isto é, de uma pequena
minoria capaz de impor mudanças de governo e jogar as dívidas para cima dos
cidadãos.
Quem levaria para frente
o pagamento imediato de uma dívida diante das necessidades básicas dos seus
filhos? No nosso mundo, os desejos de um punhado de prestamistas contam mais do
que os de milhões de cidadãos.
Bancos com lucros de
centenas de milhões expulsam de sua casa pessoas em situações precárias, sem
lhes dar possibilidade de negociar, sem procurar uma solução. Exigindo, de
outro lado, o pagamento de uma dívida que condiciona o desesperado da vida. A
crise econômica dos últimos anos, que tem provocado tanto sofrimento, é fruto
da avareza. Alguns penitentes pediam controle aos governantes, para controlar
os seus impulsos daninhos. Seu egoísmo incorrigível.
Centenas de milhões de
seres humanos permanecem debaixo da pobreza. Enquanto, em cada ano, a indústria
armamentista continua sendo um grande negócio para alguns. Só nos Estados
Unidos o orçamento anual supera o bilhão de dólares. Precisam fazer sentir o
medo e que a roda da guerra não seja detida, para continuar se enriquecendo.
Boa parte do dinheiro
que se obtém na mudança de vendas para clientes incômodos acaba em paraísos
fiscais, outra ferramenta de uma estrutura criminosa.
A sangria do dinheiro
para estes lugares, procedente de atividades ilícitas, supõe, segundo dados do
Banco Mundial, cerca de bilhão e meio de dólares ao ano.
Recursos roubados ao
bem-estar coletivo. A fraude fiscal é maior entre os que mais possuem.
A terra se converteu em objeto de especulação.
Terra com distribuição
de propriedades que não mudam na América Latina. 80% da terra no Paraguai está
em mãos de menos de 3% dos proprietários. No Brasil, menos de 2% dos
proprietários açambarcam quase a metade das terras.
Os alimentos têm sido
produto de exploração: a fome de muitos melhora o balancete econômico de uns
poucos. Os especuladores fazem dinheiro do nada, criando artifícios. Os
mercados são "uma grande partida de pôquer mundial, da qual participam as
oligarquias mundiais e das quais o resto, 99,9% da população mundial somos
meros espectadores impotentes, meros peões do sistema”.
As oligarquias mundiais
baseiam o seu poder na desigualdade. A ditadura dos mercados só é factível em
sociedades desiguais. A desigualdade exige que alguns possam impor os seus
interesses. Por outro lado, as sociedades mais igualitárias tendem a controlar
esses excessos.
Um por cento controla
cerca de 40% da riqueza mundial; 10% dos lugares mais ricos do planeta
concentram 85% da riqueza mundial. 50% dos mais pobres dispõem de 1%.
Nos Estados Unidos,
epicentro da atual crise econômica, 1% contribui com dois terços do orçamento
total em campanhas eleitorais. Os seus interesses estão bem protegidos. 0,01%
dos contribuintes soma ¼ de todo o dinheiro que engorda o seu sistema
democrático.
Essa minoria,
responsável de camuflar os indignados desejos nos cuidados retóricos superficiais
está ganhando a batalha. Nos últimos anos as medidas introduzidas pelos
governos têm contribuído para enriquecer o 1%. Recortes e austeridade em época
de recessão.
Desemprego e pobreza
como consequências inevitáveis.
Warren Buffet, conhecido
milionário, afirmou que sua classe ganhou a guerra de classes que se introduziu
nos últimos vinte anos.
Sem dúvida, as mudanças
são inevitáveis.
Tinha razão Roubini ao
escrever que a desigualdade gera desestabilidade e ao constatar o fracasso do
denominado modelo neoliberal. Nenhum modelo econômico terá legitimidade se não
enfrenta o desafio da desigualdade, eliminando a ignomínia que supõe que
milhões de pessoas não conseguem vencer suas necessidades básicas.
Em 2008, ante a
demonstração da imensa capacidade de influência dos mais beneficiados pelo
estado atual das coisas, traduzida na proposta de empregar fundos públicos para
corrigir desmandos financeiros, Stiglitz afirmou que tinha chegado "o fim
da ideologia de que os mercados livres e desregulados funcionam sempre”.
Posteriormente,
finalizava um texto que suscitou um grande debate, com as seguintes palavras:
"Os mercados só funcionam como devido quando feitos dentro de um limite
adequado de reguladores públicos; e este limite somente pode ser conseguido em
uma democracia que reflete os interesses de todos, não os interesses de 1%. O
melhor Governo que o dinheiro pode comprar já não é suficiente”.
- 1% da população controla aproximadamente 40% da riqueza mundial.
- 10% dos lugares mais ricos do planeta concentram 85% da riqueza mundial.
- Um bilhão de pessoas vivem com 4% da riqueza mundial.
- 1% da população dos Estados Unidos contribui com dois terços do orçamento total em campanhas eleitorais. 0,01% dos doadores contribui com a quarta parte do total.
- Em 2008, a ajuda ao desenvolvimento dos países não chegou a ser uma décima parte do gasto militar mundial.
- Segundo as Nações Unidas, com trezentos bilhões de dólares poderia ser erradicada a pobreza extrema. A cifra supõe a terça parte do gasto militar anual.
- 0,1% da população mundial acumula ativos financeiros no valor de 4,27 bilhões de dólares. Deste 0,1%, 73% são mulheres. 53% são do Japão, USA e Alemanha.
- Em 2012, Carlos Slim continuou sendo a pessoa mais rica do mundo. A sua fortuna é calculada em 69 bilhões de dólares.
- Em 2012, o número de pessoas com patrimônios superiores a um bilhão de dólares alcançou a cifra recorde de 1226. A média da sua fortuna é de 3.700 milhões de dólares. A soma total das suas fortunas é de 4,6 trilhões de dólares.
- Os lucros das 500 pessoas mais ricas do planeta são superiores aos lucros de 416 milhões de pessoas mais pobres.
- No mundo que produz alimentos para cobrir com sobra as necessidades de toda a população, um bilhão de pessoas em todo o mundo se encontram famintas todas as noites.
- 3.500 milhões de pessoas, cerca de metade da população mundial, vivem com menos de 2 dólares por dia.
- A desigualdade é muito mais marcante em todo o mundo do que em qualquer país concreto. Uma injustiça tão grande provavelmente provocaria um cataclismo social e político se acontecesse em qualquer país individual.
- Segundo um cálculo realizado por Oxfam, baseado em dados de distribuição de lucros do Banco Mundial, se fosse possível reduzir a desigualdade mundial, mesmo só ao nível da do Haiti (um dos países com maior desigualdade do mundo), o número de pessoas que vive com menos de 1 dólar por dia seria reduzido à metade: 490 milhões. Seria superior, se fizesse uma distribuição de lucros em um país médio (em termos de desigualdade), como Costa Rica, a pobreza de 1 dólar ao dia baixaria para 190 milhões (um quinto do total atual).
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