Por Ricardo
Cavalcanti-Schiel
Faleceu por volta das 21:30 do dia 26 de março de 213,
vítima de um acidente de trânsito no Km 92 da Rodovia Bandeirantes, o diretor
do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Prof. Dr. John Manuel
Monteiro, quando regressava da universidade para sua residência em São Paulo.
Historiador e antropólogo, John Monteiro foi um
pioneiro na construção do campo temático da história indígena no Brasil, não
apenas produzindo uma obra analítica densa e relevante, como também criando e
estimulando a abertura de espaços institucionais e de interlocução acadêmica
sobre o tema. Não seria exagerado dizer que foi em larga medida por conta do
seu esforço dedicado que esse campo de estudos foi um dos que mais cresceu no
âmbitos das ciências humanas no país desde a publicação do seu já clássico
“Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo” (1994) até o
momento.
Tendo tido toda sua formação acadêmica nos Estados
Unidos (graduado pelo Colorado College e doutor pela Universidade de Chicago),
John Monteiro carreou para o ambiente acadêmico brasileiro o horizonte do
cosmopolitismo e da amplitude geográfica da curiosidade intelectual, algo que
ainda hoje contrasta consideravelmente com a primazia de um enfoque quase
estritamente regional no âmbito dos objetos temáticos das pesquisas sociais no
Brasil. Foi professor visitante na Universidade de Michigan, na École des
Hautes Études en Sciences Sociales de Paris e na Universidade de Harvard. Era
professor titular da Unicamp e assumiu recentemente a direção do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas.
John Monteiro foi o responsável pela formação de uma
geração de pesquisadores brasileiros instigados pela reflexão sobre a
possibilidade e os significados de se pensar os índios na história e uma
história dos índios. Sobretudo no Brasil. Mas também interessados em confrontar
a reflexão sistemática empreendida neste campo em outras partes do mundo. Como
consequência, não só brasileiros como também muitos latinoamericanos vieram
buscar sua interlocução e orientação científica, e ele acolheu pesquisas e
pesquisadores da Índia Portuguesa aos Andes, do México ao Chile. Mais que
apenas uma obra que tenha eventualmente congregado seguidores, John Monteiro
deixa como legado uma agenda intelectual que conta seguramente com muitos
cúmplices, da academia ao campo indigenista, do Brasil ao resto do mundo.
Em 1999 participou como um dos autores de uma das mais
importantes obras das últimas décadas sobre a história indígena nas Américas, a
“Cambridge History of the Native Peoples of the Americas”. John Monteiro
faleceu no momento em que provavelmente se encontrava no auge da sua carreira
acadêmica e intelectual, e aí permaneceria ainda por muitos anos. Seu corpo
será velado a partir das 9:00 de amanhã (28 de março) na nova extensão da
biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, e
posteriormente será cremado pela família.
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