Pular para o conteúdo principal

Na hora da crise, beba História

Por Fernando Brito
Recebo de José Vicente Goulart, filho de Jango e presidente do Instituto João Goulart, um discurso pronunciado por seu pai dias antes do Golpe de 64, que nos impôs morte, trevas e opressão. Quando a direita golpista se move, mascarada debaixo de crises políticas, o melhor antídoto contra ela é nos abeberarmos das lições da história.
Afinal, o poeta espanhol George Santayana escreveu, há mais de um século, em seu A Vida da Razão: “aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”.
Leia e veja as semelhanças que, infelizmente, estão longe de serem coincidências:
Democracia é por fim a privilégios
“Brasileiros, não receio ser chamado subversivo por propagar a necessidade de revisão da atual Constituição da República, é antiquada porque legaliza uma estrutura econômica já soberana , injusta e desumana .
O povo tem que sentir a democracia que ponha fim aos privilégios de uma minoria proprietária de terras.
Acusam o Governo Federal de estar incitando a agitação e de estar pretendendo golpear o regime democrático, mas quem acusa o Governo de pretender golpear as Instituições?
São aqueles mesmos que o povo reconhece como os maiores golpistas deste país e que, em todas as oportunidades, ostensivamente, procuram desviar o Brasil do seu rumo democrático, que é o rumo do povo brasileiro.
Os que hoje dizem que o Governo conspira, são aqueles que mais vem conspirando contra os interesses do povo e do País, os mesmo que em 1950 queriam impedir a posse do Presidente Getúlio Vargas, os mesmo que em 1954 levaram o grande Presidente ao suicídio, os mesmos que, em 1956, afirmaram que o governo eleito não podia tomar posse, os mesmos que em novembro do mesmo ano pretenderam sufocar as liberdades democráticas, os mesmos que em 1961 proclamaram que um vive-presidente eleito não podia sequer pisar no solo da Pátria e invadiam jornais e encarceravam operários e líderes populares para impedir que a constituição fosse cumprida, esses mesmos que gritam hoje que o Presidente João Goulart conspirou contra o regime e que eles são os democratas deste País; desgraça da nossa democracia se tivesse de ser defendida por aqueles que sempre estão prontos para golpeá-la.
O que eles querem encobrir com essas acusações constantes são outros propósitos e objetivos com essa campanha de difamação, de mentiras, de mistificação e confundir o povo brasileiro, para evitar que se façam dentro deste País as reformas reclamadas pela classe operária, que não constituem apenas uma reivindicação legítima e patriótica dos brasileiros deserdados, mas sim um imperativo nacional, reclamado pelo nosso desenvolvimento e o nosso progresso.”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade: Introdução geral do livro "Por uma outra globalização" de Milton Santos

Por Milton Santos Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mun­do físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente percebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, q...

Brasil perde um dos seus mais importantes cientistas sociais

Por Ricardo Cavalcanti-Schiel Faleceu por volta das 21:30 do dia 26 de março de 213, vítima de um acidente de trânsito no Km 92 da Rodovia Bandeirantes, o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Prof. Dr. John Manuel Monteiro, quando regressava da universidade para sua residência em São Paulo. Historiador e antropólogo, John Monteiro foi um pioneiro na construção do campo temático da história indígena no Brasil, não apenas produzindo uma obra analítica densa e relevante, como também criando e estimulando a abertura de espaços institucionais e de interlocução acadêmica sobre o tema. Não seria exagerado dizer que foi em larga medida por conta do seu esforço dedicado que esse campo de estudos foi um dos que mais cresceu no âmbitos das ciências humanas no país desde a publicação do seu já clássico “Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo” (1994) até o momento. Tendo tido toda sua formação acadêmica nos Estados Unidos (graduado pelo Col...

Preços de combustíveis: apenas uma pequena peça da destruição setorial

Por José Sérgio Gabrielli Será que o presidente Bolsonaro resolveu dar uma reviravolta na sua política privatista e voltada para o mercado, intervindo na direção da Petrobras, demitindo seu presidente, muito ligado ao Ministro Guedes e defensor de uma política de mercado para privatização acelerada e preços internacionais instantâneos na companhia? Ninguém sabe, mas que a demissão do Castello Branco não é uma coisa trivial, com certeza não é. A ação de Bolsonaro, na prática, questiona alguns princípios fundamentais da ideologia ultraneoliberal que vinha seguindo, como o respeito à governança das empresas com ações negociadas nas bolsas, a primazia do privado sobre o estatal e o abandono de intervenções governamentais em assuntos diretamente produtivos. Tirar o presidente da Petrobras, por discordar da política de preços, ameaça o programa de privatizações, pois afasta potenciais compradores de refinarias e tem um enorme efeito sobre o comportamento especulativo com as ações da Petrob...