Por Altamiro Borges
Faleceu na tarde deste
sábado, em Brasília, o professor Bautista Vidal. Tive a oportunidade de
conhecê-lo quando dirigia o Centro de Estudos Sindicais (CES), na década de 80.
Ele foi convidado para vários cursos de formação pelo seu vasto conhecimento da
história do Brasil e pela sua defesa intransigente da soberania nacional.
Lembro-me de suas apaixonadas exposições sobre a construção da Petrobras. Era
um polemista aguerrido, um ferrenho opositor da sanha imperialista em nosso
continente. Vai deixar saudades. Reproduzo abaixo a nota publicada pela TV
Cidade Livre de Brasília, enviada pelo amigo Beto Almeida:
*****
A TV Cidade Livre de
Brasília cumpre o doloroso dever de comunicar ao público em geral, mas
especialmente ao enorme contingente de admiradores, amigos e seguidores do
professor Bautista Vidal, o criador do Pró-Alcool, o seu falecimento ocorrido
na tarde de hoje, em Brasília. O velório será realizado amanhã, domingo, das 15
às 18 horas, na Capela 3 do Cemitério do Campo da Esperança, nesta capital.
José Walter Bautista Vidal, foi um cientista e professor, físico
brasileiro de renome internacional, ex-professor da Universidade de Brasília
que, juntamente com Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), foi o idealizador do
motor à álcool. Escritor talentoso, conferencista brilhante, Bautista Vidal
foi autor de 12 livros, dentre eles se destacam: De Estado Servil à Nação
Soberana; Civilização Solitária dos Trópicos; Soberania e Dignidade, Raízes da
Sobrevivência; O Esfacelamento da Nação; e A Reconquista do Brasil.
Seu último livro, “A
Economia dos Trópicos” é uma crítica contundente ao pensamento da Cepal,
tomando posição em defesa de um desenvolvimento autônomo e soberano dos países
semi-coloniais a partir de uma ruptura com o sistema de dominação internacional,
baseado no que ele chamou de “Tirania vídeo-financeira”. Grande parte de sua
obra é um relato da experiência do tempo em que fez parte do governo como
principal mentor do Pro-Alcool, quando ocupou o cargo de Secretário de
Tecnologia Industrial, tendo impulsionado a formação e a desenvolvimento de
centenas de centros tecnológicos, a formação de quadros e uma visão estratégica
sobre o potencial brasileiro a partir da energia da biomassa e também da
alcoolquímica, sistema que, segundo sustentou, deverá substituir com inúmeras
vantagens, entre elas a ambiental, a economia da petroquímica.
Seus livros são leitura
obrigatória para quem quer entender mais sobre a Economia Brasileira, sobre o Jogo do Poder Energético mundial e as
razões da nossa dependência tecnológica, advogando serem os trópicos a
região mais adequada e insuperável para a produção de combustíveis renováveis,
tema que o levou a ter largos encontros com o ex-presidente Luis Inácio Lula da
Silva, a quem sugeriu a formação de uma ferramenta de estado capaz planejar,
articular e organizar o desenvolvimento da energia renovável. Pouco tempo
depois é criada a Petrobrás Biocombustíveis, mas o professor Vidal sempre
argumentou ser necessária uma estrutura independente da Petrobrás, sustentando
que há um cultura petroleiro dominante que inibe e sabota o rápido
desenvolvimento das energias renováveis, entre as quais a da biomassa.
Bautista Vidal sempre
foi constantemente convidado para proferir palestras nos mais renomados centros
científicos internacionais, nas quais discorria com uma eloquência que causava
admiração acerca dos limites e problemas produzidos pela economia petroleira,
com ramificações , como alertava, nos sistemas financeiros, midiáticos e ,
especialmente, militar, sendo atualmente o principal fator das mais recentes
guerras, sobretudo pela enorme dependência das potências imperialistas do
petróleo produzido pelos países não desenvolvidos. Denunciou com coragem ímpar
a manipulação midiática por parte das potências imperiais em torno de uma
suposta guerra ao terrorismo, usada, como encobrimento de uma verdadeira guerra
de rapina pelos recursos energéticos de outros pvos.
Esses temas foram objeto
de largas conversações entre Bautista Vidal e o falecido presidente Hugo
Chávez, o governador Leonel Brizola, o ex-governador Roberto Requião e sempre
esteve presente na entranhável amizade que o ligou a intelectuais e artistas
como Glauber Rocha, Ariano Suassuna, Gilberto Felisberto Vasconcelos, Moniz
Bandeira, Darcy Ribeiro, Beth Carvalho, mas também aos movimentos populares,
como o MST, sindicalistas vinculados às centrais sindicais, com os quais
mantinha frutíferos e solidários diálogos.
Uma das inumeráveis
qualidades do professor Bautista Vidal revelava-se em sua inteligente e
sistemática crítica ao sistema midiático dominante, razão que o levou escrever
e dar conferências sobre o tema, a elaborar este conceito de “tirania
vídeo-financeira” e, também, a participar ativamente das lutas pela
democratização dos meios de comunicação, e, em especial, a ser homenageado como
Presidente de Honra da TV Cidade Livre, o Canal Comunitário de Brasília, onde
sua presença nas telas era sinal de brasilidade e de compromisso com o povo
brasileiro na programação.
Crítico implacável do
neoliberalismo, da devastação dos meios produtivos nacionais, do entreguismo
indefensável do patrimônio público brasileiro, Bautista Vidal, lutou
incansavelmente contra a privatização da Cia Vale do Rio Doce, qualificando
aquela operação como um “crime de lesa pátria”, razão que o levou a ingressar
com Representação na Procuradoria da Justiça Militar contra o Ex-Presidente
Fernando Henrique Cardoso, acusando-o de alienar território nacional, seu
subsolo, o que possui grave tipificação nos códigos militares e também na
Constituição Federal.
Apaixonado pelo Brasil,
pela sua cultura, sua história e pelo o seu povo, Bautista Vidal escreveu, em
parceria com Gilberto Felisberto Vasconcelos, um pungente livro intitulado
“Petrobrás – um clarão na história”, no qual homenageia a obra do ex-presidente
Getúlio Vargas e sustenta o enorme potencial brasileiro para transformar-se
numa Nação desenvolvida, justa, generosa. “Não existe razão para que exista uma
única pessoa pobre no Brasil”, costumava argumentar.
A TV Cidade Livre de
Brasília, que teve a honra e o privilégio de contar com a inteligência, a
coragem, a bravura e a lucidez do professor Bautista Vidal em seus quadros, em
seus programas, em sua luta diária para que se faça uma televisão a favor do
Brasil, a favor da civilização, sem concessões a conteúdos embrutecedores e de
baixo padrão civilizatório, rende sua mais sentida e profunda homenagem a este
grande brasileiro que , como Darcy Ribeiro, nos deixa um grande legado e uma
grande tarefa: a de transformar este país naquilo que ele tem que ser, que
ainda não é, mas haverá de ser: um país justo, desenvolvido para todos,
generoso com todos os povos e uma alavanca para um novo padrão solidário de
civilização.
A diretoria TV Cidade
Livre de Brasília - Brasília, 1 de junho de 2013.
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