Por Paula Furlan
Os combustíveis
alternativos vêm sendo amplamente debatidos como forma de promover o consumo
sustentável e evitar o esgotamento de determinadas fontes. O gás de xisto é uma
destas soluções. O xisto betuminoso é um tipo de rocha metamórfica fonte de
combustível que, quando submetido a altas temperaturas, produz um óleo de
composição semelhante à do petróleo do qual se extrai nafta, óleo combustível,
gás liquefeito, óleo diesel e gasolina.
Os Estados Unidos e
Brasil são os países com as maiores reservas mundiais de Xisto. A empresa brasileira
Petrobrás desenvolveu o Processo Petrosix ® para produção de óleo de xisto em
larga escala.
No debate 'O Xisto, a
Geopolítica Energética e a Sustentabilidade', promovido pelo Conselho de
Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado
de São Paulo (FecomercioSP), em São Paulo, palestrantes concordaram que o gás
não convencional é uma alternativa energética viável para o Brasil, importante
para garantir e ampliar a competitividade nacional frente a outros mercados e
possível de ser explorado se a gestão dos riscos ambientais for eficiente.
"Acredito que esta rocha pode energizar o
mundo", disse o vice-diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da
Universidade de São Paulo (USP), Colombo Celso Gaeta Tassinar. O recurso
natural é encontrado em rochas metamórficas localizadas a partir de 1,5 mil
metros de profundidade. "Quanto mais profundas as rochas, maior o
potencial."
O gás de xisto - chamado
de gás de folhelho ou shale gas pelos especialistas - ganhou visibilidade no
País com o anúncio da realização, nos dias 30 e 31 de outubro, do primeiro
leilão de blocos pelo governo federal. Por causa da técnica utilizada para sua
obtenção - o fraturamento hidráulico -, logo virou alvo de polêmica: também
conhecido por fracking, ele envolve a explosão de rochas sedimentares e injeção
de grande quantidade de água (cerca de 90%), areia (9%) e reagentes químicos
(1%).
Um dos perigos apontados
por ambientalistas é de que esse material químico poderia entrar em contato com
lençóis freáticos. "As partes
críticas do poço (especialmente as que passam por lençóis) são revestidas com
cimento e aço. Além disso, antes de iniciar a operação, é preciso um estudo da
área em questão, levantamento ambiental, domínio das técnicas, além da
existência de regulação da atividade e um protocolo de segurança", afirmou
Tassinar. "A agricultura tem a mesma e até maior probabilidade de
contaminação da água e do solo do que o shale gas", exemplificou citando o
uso de fertilizantes e agrotóxicos nas plantações.
De acordo com agências
internacionais, o Brasil teria pelo menos 6,4 trilhões de m³ de reservas
recuperáveis de xisto, o que o coloca na décima posição no mercado mundial. A
estimativa, porém, é considerada tímida - acredita-se que o País tenha, ao lado
de Estados Unidos e China, as maiores reservas do recurso no mundo.
Segundo especialistas,
risco de contaminação por xisto é mínimo. Imagem | The Wall Street
Journal.Segundo um estudo da Royal Society, entidade inglesa voltada para a
Ciência sobre o xisto, alguns fatos foram descobertos. "Um deles é que o
risco para saúde, segurança e meio ambiente podem ser geridos de forma eficaz.
Outro, que a propagação das fraturas (geradas no fracking) é improvável causa
de contaminação", disse.
Contudo, a produção de
gás de xisto no Brasil só será viável em 2023, caso os investimentos comecem a
ser feitos já. "Demorará cerca de dez anos para a produção de gás de xisto
se tornar viável", disse em seminário realizado em São Paulo. "Se não
tivermos investimentos agora, daqui a dez anos não teremos recursos.Dado que
toda a infraestrutura tem de ser desenvolvida, espera-se que a produção
brasileira esteja disponível para consumo dentro de 10 anos", informou
Affonso.
A descoberta de grandes
reservas potenciais de xisto nos Estados Unidos, que estuda o gás desde a
década de 1990, fez com que a produção do país tivesse grande impulso a partir
de 2006. O entusiasmo gerado pela alternativa não convencional provocou uma
verdadeira "corrida ao xisto" pelas empresas, o que, em última
instância, chegou até a causar a proibição da atividade em alguns estados
norte-americanos.
"Apesar do Brasil
não ter ainda nenhum poço aberto, podemos aprender com as lições dos Estados
Unidos", disse Goldemberg. "Mas temos um caminho longo pela frente,
como a obtenção de EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto
Ambiental) em cada Estado". Para ele, um dos pontos mais sensíveis para o
projeto de exploração do gás de xisto é o relatório, pois a autorização para
exploração do gás em terra passa pelos Estados e não pela União.
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