Por Kate Kelland
Austeridade fiscal faz
mal à saúde, revela pesquisa.
LONDRES, 29 Abr
(Reuters) - As políticas de austeridade estão tendo um efeito devastador sobre
a saúde na Europa e América do Norte, provocando suicídios, depressão e doenças
infecciosas, e reduzindo o acesso a atendimento médico e remédios, disseram pesquisadores
nesta segunda-feira.
Detalhando uma década de
pesquisas, o economista político David Stuckler, da Universidade Oxford, e
Sanjay Basu, professor-assistente de medicina e epidemiologista na Universidade
Stanford, disseram que suas conclusões mostram que a austeridade é altamente
nociva para a saúde.
Em um livro a ser
lançado nesta semana, os pesquisadores dizem que mais de 10 mil suicídios e até
1 milhão de casos de depressão foram diagnosticados durante o período que eles
chamaram de "Grande Recessão", que foi acompanhado de medidas de
austeridade na Europa e América do Norte.
Na Grécia, medidas como
cortes orçamentários nos programas de prevenção à Aids coincidiram com um
aumento de mais de 200 por cento nas infecções pelo vírus HIV desde 2011 -- o
que tem como explicação também a disparada no uso de drogas, num contexto em
que o desemprego juvenil chega a 50 por cento.
A Grécia também
registrou seus primeiros casos de malária em várias décadas depois de cortes
nos programas de controle do mosquito transmissor.
Nos EUA, mais de 5
milhões de pessoas perderam o acesso a tratamento médico durante a recessão,
disseram os pesquisadores, e na Grã-Bretanha cerca de 10 mil famílias se
tornaram sem-teto por causa das medidas governamentais restritivas.
"Nossos políticos
precisam levar em conta as sérias, e em alguns casos profundas, consequências
das escolhas econômicas", disse David Stuckler, pesquisador-sênior da
Universidade de Oxford e coautor do livro "The Body Economic: Why Austerity
Kills" ("A economia do corpo: por que a austeridade mata", em
tradução livre).
"Os males que
encontramos incluem surtos de HIV e malária, escassez de medicamentos
essenciais, perda do atendimento à saúde e uma evitável epidemia de abuso do
álcool, depressão e suicídio", disse ele em nota. "A austeridade está
tendo um efeito devastador."
Mas Stuckler e Basu
disseram que os efeitos negativos sobre a saúde pública não são inevitáveis,
mesmo durante as piores crises financeiras.
Na Suécia, por exemplo,
programas ativos de inclusão no mercado de trabalho contribuíram para uma
redução no número de suicídios, mesmo durante uma recessão. Países vizinhos
onde isso não acontece registraram um grande aumento nos suicídios.
E, nos EUA, durante a
Grande Depressão de década de 1930, a cada cem dólares adicionais distribuídos
pelo programa New Deal havia cerca de 20 mortes a menos a cada mil nascidos
vivos, 4 suicídios a menos a cada 100 mil pessoas, e 18 mortes por pneumonia a
menos a cada 100 mil pessoas.
"No final, o que
vimos é que a piora da saúde não é uma consequência inevitável das recessões
econômicas. É uma escolha política", disse Basu na nota.
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