Análise põe em xeque
economia verde e sustentabilidade
A pesquisa de doutorado
‘Pilhagem territorial e degradação do
trabalho nos novos espaços da produção de celulose no Brasil’, de Guilherme
Marini perpetua, orientado por Antonio Thomaz Junior, da Unesp de Presidente
Prudente, parte de três constatações essenciais.
A primeira é a de que,
atualmente está em curso um intenso movimento de transferência das etapas
iniciais da cadeia produtiva da celulose e do papel em âmbito internacional,
partindo dos países tradicionalmente produtores do Hemisfério Norte para o Sul,
desencadeado pela busca da redução dos custos de produção e por contornar
restrições impostas pelas legislações trabalhista e ambiental nos países
centrais.
Em segundo lugar,
verifica-se que, internamente ao Brasil, também tem ocorrido um movimento de
relocalização produtiva, na medida em que as novas plantas fabris do segmento
da celulose e papel estão se instalando e se transferindo, preferencialmente,
para novos espaços, mais distantes do centro dinâmico da economia nacional
(Sudeste), e sem nenhuma tradição nesse tipo de atividade.
São os casos dos estados
do Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí, que atraem os
investidores devido principalmente às vantagens comparativas quanto ao preço da
terra, uma vez que cada megaprojeto requer centenas de milhares de hectares de
terra para a formação de bases contíguas de monocultivo de árvores –
principalmente as espécies do gênero Eucalyptus. Outro fator locacional importante é a presença
de mananciais abundantes de água, necessários tanto para o cultivo do eucalipto
quanto para o processamento industrial.
“Finalmente, constatamos
em pesquisa anterior que as empresas utilizam-se em grande medida do
receituário pragmático do regime de acumulação flexível, impondo vínculos e condições
de trabalho extremamente precários e degradantes aos trabalhadores, fato que
tem resultado em constantes levantes e paralisações nas áreas pesquisadas.”,
diz Perpetua.
O objetivo da pesquisa é
compreender a dinâmica geográfica do trabalho na produção de celulose e papel
no Brasil, e sua articulação com o movimento global do setor na
contemporaneidade, por meio da análise da apropriação e exploração da natureza
e da força de trabalho.
“Para tanto, buscaremos
combinar metodologias de pesquisa quantitativa (dados secundários) com
metodologias qualitativas (observação participante e realização de entrevistas
semiestruturadas), atribuindo grande importância ao trabalho de campo nas áreas
estudadas, quais sejam, os mais novos enclaves do monocultivo do eucalipto e da
produção de celulose e papel no território brasileiro (Leste de Mato Grosso do
Sul, Sul de Tocantins, Sul da Bahia, Oeste do Maranhão e Oeste do Piauí)”,
conta o doutorando.
Como referencial teórico
serão adotados autores que se fundamentam no materialismo histórico e
dialético, que nos permita compreender os fenômenos estudados como parte da
incontrolabilidade e irreformabilidade sistêmicas do sociometabolismo do
capital na era da mundialização.
“Ainda que em estágio
inicial, esperamos que a pesquisa ofereça elementos para um debate crítico
acerca, especialmente no que diz respeito à discussão sobre a falácia da
economia verde e da sustentabilidade que envolvem as atividades econômicas em
torno do monocultivo de eucalipto e da produção de celulose e papel, como forma
de legitimar os desastres ambientais e os descumprimentos sociais e laborais”,
aponta Perpetua.
O trabalho foi
apresentado no Simpósio Internacional 'Questões do Trabalho, Ambientais e da
Saúde do Trabalhador', que ocorreu entre os dias 15 e 17 de maio na Unesp de
Presidente Prudente.
O evento foi organizado
pelo Centro de Estudos e Pesquisas do Trabalho, Ambiente e Saúde (CETAS) e
contou com professores da Universidade da Geórgia (EUA), do Centro de Estudos
Ambientais Cienfuegos (Cuba) e da Universidad Nacional de San Juan (Argentina).
A trajetória de pesquisa
do coletivo CETAS expressa predomínio da compreensão dos impactos sobre
trabalhadores, ambiente e a sociedade. O
Centro é formado pelo Centro de Estudos de Geografia do Trabalho
(CEGeT/Laboratório CEMOSI/OTIM), pelo Grupo de Pesquisa 'Gestão Ambiental e
Dinâmica Socioespacial' (GADIS) e pelo Laboratório de Biogeografia e Geografia
da Saúde. Neste sentido, o evento possui
um eixo fundamental de discussão vinculado às atuações dos Grupos de Pesquisas
que dão origem ao CETAS.
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