Por Saul Loeb
Em discurso que deveria
limitar escopo dos ataques, presidente dos EUA faz defesa da estratégia como a
melhor opção diante das alternativas.
Obama durante discurso
em Washington. Ele defende o uso de drones como a melhor alternativa no combate
à Al-Qaeda.
Os Estados Unidos não
vão parar de usar aeronaves não tripuladas para bombardear e matar supostos
terroristas no exterior. O recado foi
dado nesta quinta-feira 23 pelo presidente norte-americano, Barack Obama, em
discurso na Universidade de Defesa Nacional, em Washington.
A fala de Obama foi a
primeira sobre contraterrorismo em seu segundo mandato. A intenção era
estabelecer publicamente as diretrizes dos ataques com drones e, segundo a
imprensa norte-americana, restringir o uso deste tipo de estratégia. Na
prática, Obama fez uma defesa dos ataques, que tiveram início no governo de
George W. Bush, mas ganharam peso e importância durante seus mandatos na Casa
Branca, tornando-se uma das principais ferramentas de combate ao terrorismo.
Obama tentou retratar o
uso de drones como a única alternativa a “não fazer nada” diante das ameaças
aos EUA. De acordo com ele, os drones são efetivos, pois desmantelaram boa
parte da liderança da Al-Qaeda e salvaram vidas, e legais, pois há uma
autorização do Congresso para o uso de força e os EUA estão, oficialmente, “em
guerra com a Al-Qaeda, o Taleban e forças associadas”.
"Assombrado
enquanto viver". Obama admitiu que os aviões não tripulados mataram também
civis inocentes, mas disse avaliar esta alternativa como preferível a um ataque
convencional com mísseis ou mesmo a invasões, como a que matou Osama bin Laden
em maio de 2011. “Eu e minha administração seremos assombrados por essas mortes
enquanto vivermos”, disse Obama. “Mas como comandante em chefe eu preciso pesar
essas tragédias com as alternativas a ela”, afirmou.
Ainda segundo Obama, o
fato de a estratégia ser efetiva e legal não a torna automaticamente
“inteligente” e “moral”. Assim, afirmou o presidente norte-americano, ele está
disposto a ampliar o controle externo sobre os ataques, criando um novo comitê
de responsabilização no âmbito do Executivo ou incluindo o Judiciário na
fiscalização.
De acordo com Obama, o
Congresso é informado a respeito de todos os ataques aéreos realizados pelos
EUA, inclusive aqueles contra cidadãos norte-americanos. Nesta semana, Obama retirou
o sigilo das informações a respeito da morte de Anwar al-Awlaki, ideólogo da
Al-Qaeda na Península Arábica nascido nos EUA e morto por um drone em setembro
de 2011. Foi a primeira vez que a Casa Branca admitiu ter matado Al-Awlaki, o
que configura o primeiro assassinato deliberado e sem julgamento realizado pelo
governo dos EUA contra um cidadão do país desde a Guerra Civil (1861-1865).
A confirmação do
assassinato é uma tentativa de dar mais transparência ao uso de drones. Segundo
Obama, eles só ocorrem como última alternativa, quando não é possível capturar
alguém que representa ameaça iminente aos EUA. Os ataques são, segundo ele,
realizados em coordenação com outros governos e apenas quando estes não têm
capacidade de conter terroristas em seu próprio território.
Guerra ao terror. Apesar
de defender os drones, Obama deixou claro ter a intenção de reduzir o escopo da
“guerra ao terror”. O termo criado na gestão Bush foi abandonado há anos, mas
as práticas ainda estão em vigor. Obama lembrou a frase de James Madison,
quarto presidente dos EUA (1809 a 1817), segundo quem “nenhuma nação pode
preservar sua liberdade em meio à guerra contínua”. Assim, afirmou ele, é
preciso que os EUA “definam a natureza e o escopo desta luta, ou então ela vai
definir” os EUA.
É difícil crer que o discurso de Obama reduza de alguma forma as justas críticas a ele e aos drones. Apesar de mostrar ter consciência de que a estratégia tem diversos pontos negativos, especialmente morais, Obama deixou ainda mais claro que vai continuar apostando nela. Ele tem motivos para isso. O uso de drones tem apoio no Congresso, é aprovado por 56% dos eleitores e economiza vidas e dólares norte-americanos. A estratégia, no entanto, é uma contradição em termos. As mortes de civis provocadas pelos drones tendem a dificultar aquele objetivo que Obama considera ser o principal não apenas de sua gestão, mas do Estado norte-americano: diminuir o ódio aos Estados Unidos no mundo e, assim, tornar o país mais seguro.
É difícil crer que o discurso de Obama reduza de alguma forma as justas críticas a ele e aos drones. Apesar de mostrar ter consciência de que a estratégia tem diversos pontos negativos, especialmente morais, Obama deixou ainda mais claro que vai continuar apostando nela. Ele tem motivos para isso. O uso de drones tem apoio no Congresso, é aprovado por 56% dos eleitores e economiza vidas e dólares norte-americanos. A estratégia, no entanto, é uma contradição em termos. As mortes de civis provocadas pelos drones tendem a dificultar aquele objetivo que Obama considera ser o principal não apenas de sua gestão, mas do Estado norte-americano: diminuir o ódio aos Estados Unidos no mundo e, assim, tornar o país mais seguro.
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