Por Marco Aurélio Mello
Recuso-me a assistir à
TV Globo desde que sai de lá. Como disse Lula em entrevista recente, não admito
mais ser envenenado aos poucos. Muitos acham que é por despeito, porque fui
demitido. Nada disso. Fui feliz enquanto estive lá, aprendi muito, deixei
colegas leais e bons amigos, com os quais - infelizmente - não posso mais me
relacionar, porque se descobertos podem ser demitidos. Vejam só que ironia...
Hoje impera na emissora uma ditadura. O
noticiário é todo centralizado nas mãos de um incompetente gestor de conteúdo,
que faz com o telejornalismo o que acusa outras empresas de fazer. Distorce,
manipula e pior, usa o noticiário para chantagem política, o que deveria ser
tratado como crime de lesa-pátria. Digo incompetente porque não consegue
escamotear os interesses dos patrões, como era feito eficientemente durante o
regime militar.
Ontem, encontrei um
ex-funcionário, que trabalhou décadas na empresa, mas que, ao contrário de mim,
continua assistindo aos noticiários, porque acha que assim pode mapear os
interesses e fazer uma crítica que julga ser "por dentro". Alguém que
ficou décadas lá e sabe direitinho como funciona a engrenagem. Fiquei feliz
porque alguém precisa mesmo falar sobre isso.
Ele fez considerações
importantes. Dividiu os telejornais assim: o Jornal da Globo, notívago, é o
vampiro que suga o sangue da economia. E deu um exemplo. Na última sexta-feira
eles escolheram cinco assuntos da semana para martelar a ideia de que o país
está a caminho da falência. Inflação fora da meta, balança comercial
desfavorável, juros perigosamente baixos e por aí foi...
Depois das notícias
entra um ex-servidor tucano, disfarçado de jornalista econômico, bundemberg,
alterberg, algo assim, para explicar num gráfico lindo, 3D e virtual, como o
caos se aproxima. Essa gente fala para o pequeno e médio empresário, emergente,
self-made man, que não tem muito tempo nem muita capacidade intelectual de se
informar mais aprofundadamente e compra fácil a teoria do caos, porque tem
medo. Entram em pânico facilmente e só arriscam e investem em seus negócios
quando estão muito confiantes.
De manhã o massacre
prossegue com aqueles que Deus ajuda, porque cedo madrugam. Mas o que chamou
mesmo a atenção na análise do parceiro foi a estreia do novo apresentador do
Bom Dia São Paulo. Segundo ele, o rapaz vem atender à demanda da emissora por
chantagear o novo prefeito, em troca de benesses e contratos diversos, não
necessariamente publicitários.
Ele observou que o
telejornal matinal abriu o dia batendo na administração municipal. O que
continuou na hora do almoço, no SPTV. E lembrou-se de um episódio que preferiu
apenas tratar como teste de hipótese, já que ainda não tem como comprovar.
Quando o prédio novo
estava sendo erguido, surgiu o desejo do Glass Estúdio. Mas como se livrar da
publicidade que ocupava toda a marginal do rio Pinheiros, além do enorme
letreiro da Microsoft sobre a torre do World Trade Center, do outro lado da Avenida
Água Espraiada? (recuso-me a chamá-la de avenida Roberto Marinho).
Simples, Lei Cidade
Limpa! Será que teria sido esta a causa para o Kassab ter passado incólume pela
prefeitura durante 6 anos? Só saberemos o dia em que um dos envolvidos abrir o
bico. Aí será tarde. Mas vamos supor que o atual prefeito decida recapiar a
Marginal e criar um transporte moderno, rápido, sob trilhos, na margem direita
do rio e, para isso, precise autorizar painéis luminosos e telas de alta
definição ao longo do percurso, para financiar a bra?
Aposto que não duraria
mais um mês no cargo. Portanto, diz esse meu interlocutor, vamos olhar os
contratos futuros, o Diário Oficial, porque pode estar a caminho um grande
acordão. E para os telespectadores que gostam daquele fundo de vidro atrás do
apresentador, com uma cidade caótica, mas que dali aparenta ser bucólica e
tranquila, não se preocupem, o cenário continuará o mesmo.
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