Por Cristina Padiglione
Sabe aquela tela
minimizada que, ao canto inferior direito da TV, reproduz em Libras – Linguagem
Brasileira de Sinais –, especialmente aos deficientes auditivos, o conteúdo do
áudio do programa? Pois é. Na TV INES, do Instituto Nacional de Educação de
Surdos, a ordem é inverter a proporção dessas telas e ampliar a imagem de quem
fala na linguagem de sinais. Está no ar a primeira TV para surdos do País.
Segundo estimativas
informadas ao Estado pela diretora do INES, Solange Rocha, o Brasil conta com
uma plateia em torno de 5 milhões de deficientes auditivos. Veiculada apenas
via internet, pelo endereço http://www.tvines.com.br, a TV INES não dispensa o
sonho de chegar a um canal com sinal convencional de TV, de preferência no
segmento aberto.
Para tanto, vai
experimentando um conteúdo a seu modo, com tudo a que uma emissora de TV tem
direito. Alguns programas já são especialmente produzidos para o canal, como o
humorístico Piadas, o Aulas de LIBRAS e o Tecnologia, sobre novidades e avanços
tecnológicos que podem facilitar a vida dos deficientes auditivos. Outros são
adaptados para a TV INES, que reedita as imagens inserindo um quadro com
linguagem de LIBRAS e legendas na tela. São os casos do Salto para o Futuro,
Via Legal, Brasil Eleitor, filmes e desenhos animados. Há ainda o Jornal Visual
em três edições diárias, único telejornal dedicado aos deficientes auditivos no
Brasil.
“É uma TV para e sobre
surdos”, define Solange. “Nossa ideia é criar um entorno positivo a esse
universo, para que eles possam ter esse conforto, e que o mundo também entre no
universo deles: é um espaço de entrada e de saída.”
Ainda experimental
A ideia nasceu há coisa
de dois anos, quando a TV Brasil, em busca de uma assessoria com tradutores
intérpretes para surdos, procurou o INES. “Nessa altura, eu estava
desenvolvendo um projeto de cultura, em que os professores ficavam em tela
cheia, invertendo a lógica daquele quadradinho mínimo da linguagem de LIBRAS.”
Na época, o instituto –
ligado ao Ministério da Educação, com sede no Rio de Janeiro – havia comprado
vários televisores para criar uma comunicação interna entre os alunos.
“Resolvemos daí fazer uma televisãozinha interna”, lembra.
A meta agora é produzir
mais, ampliando o menu de títulos feitos pelo canal e reduzindo assim a parcela
de programas adaptados. “Montar uma grade é muito complexo”, admite Solange,
que chegou ao instituto há 30 anos, como professora de História.
O canal conta hoje com
programação diária de oito horas e sua operação ainda é tratada como
experimental. Mas é o suficiente para incentivar a comunidade surda a investir
em seus talentos criativos. “Temos um grupo bastante criativo de artistas
surdos que estão trabalhando nessa televisão, escrevendo, atuando,
apresentando”, vibra a diretora. “A ideia é contemplar a diversidade.”
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