Por Paul Krugman
A solução dos quatro por
cento
Larry Ball argumenta que
seria muito melhor termos uma meta de inflação de 4 por cento do que de 2 por
cento, o que é neste momento a ortodoxia dos bancos centrais. Academicamente,
essa posição não é nada estranha. Na verdade, a argumentação de Ball é muito
semelhante à que Olivier Blanchard fez há três anos, apenas enunciada de modo
mais enfático e apresentando maiores evidências.
O ponto básico é que um
patamar maior para a inflação tornaria menos provável o surgimento da armadilha
de liquidez, em que a política monetária convencional está diante do seu limite
inferior zero, e menos onerosa quando ela acontece. Ball estima que se
tivéssemos chegado a esta crise com uma meta de inflaçãosubjacente de 4 por
cento, a média de desemprego ao longo dos últimos três anos teria sido dois
pontos percentuais menor. Isso é enorme - equivale a milhões de empregos e
trilhões de dólares extras de produção.
Existem dois argumentos
principais contra uma meta de inflação mais elevada. Uma delas é que eventos
como a atual crise quase nunca acontecem. Minha opinião é que os custos destas
crises são tão elevados e as dificuldades que tivemos em responder tão
grotescas que, mesmo que fossem eventos de 75 em 75 anos, seriam suficientes
para justificar outro tipo de política. Mas Ball também argumenta que o risco
do surgimento da armadilha de liquidez é muito maior do que a sabedoria
convencional nos quer fazer crer. Basta olhar para a experiência dos EUA. As
últimas três recessões foram todas recessões "pós-modernas", causadas
por exageros no setor privado, não por apertos monetários do Fed - e em cada
caso o Fed teve muita dificuldade para obter resultados. Ambas as recessões de
1990-1991 e 2001 foram eventos de armadilha de liquidez e 2007 foi, na verdade,
de acordo com o que havia se tornado o padrão normal, não uma exceção bizarra.
De todo modo, um ponto
que Ball não menciona é que, na medida em que consideramos as questões do
Japão, em parte, demográficas, isso está se tornando a norma também: baixa
fertilidade e, talvez, os baixos retornos de investimentos também estão se
tornando o padrão entre os países avançados. Novamente, isso exige uma meta de
inflação mais elevada.
O outro argumento seria
a ameaça da perda de controle: você concorda que 4 por cento está OK, e de
repente você percebe que está no governo Carter ou talvez em Weimar. Como Ball
diz, não há realmente nenhuma evidência para este medo. De fato é o que quase
todos os bancos centrais acreditam. Mas eles realmente não podem explicar
porque acreditam e nunca devemos esquecer que houve uma época em que quase
todos os bancos centrais acreditavam que sair do padrão-ouro significaria o fim
da civilização.
O ponto é que a meta
convencional de 2 por cento é apenas um preconceito, nada mais. Apoiado em
certa medida por estudos que sugeriam que 2 por cento era o suficiente para
tornar inofensivo o limite inferior zero para a taxa de juros. Mas agora
sabemos o quão errado essa visão estava. Por isso, permanecemos com uma meta de
inflação que é considerada respeitável porque é o que todas as pessoas
respeitáveis aceitam. E é o que todas as pessoas respeitáveis aceitam porque é
considerada respeitável.
O que nós queremos?
Quatro por cento! Quando queremos isso? Agora!
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