Por Dominic Dyer
A agricultura orgânica
deve descartar sua desconfiança irracional da ciência ou corre o risco de
perder sua reputação como sendo mais seguro e mais saudável
Trabalhei intimamente
com a indústria de alimento orgânico por quase uma década, primeiro como chefe
do Grupo de Manufatura de Alimento Orgânico da Federação de Alimento e Bebida
do Reino Unido, e então como representante do Comitê do Plano de Ação Orgânica
no governo do Reino Unido. Acredito que o crescimento do setor de alimento
orgânico tem trazido muitos benefícios aos agricultores, produtores de alimentos
e consumidores pelo mundo.
O mercado para o
alimento orgânico se desenvolveu rapidamente nos últimos 20 anos à medida que
mais consumidores tornaram-se dispostos a pagar um pouco a mais por produtos
que consideram ser mais saudáveis e melhores para o meio ambiente. Embora a
crise econômica atual tenha reduzido significativamente as vendas de alimento
orgânico, existe hoje por volta de 170.000 fazendas orgânicas na Europa,
cobrindo quase 2% de toda a terra em cultivo.
A indústria orgânica
pode se sentir orgulhosa de suas realizações com o bem-estar do animal,
proteção ambiental, rastreamento e qualidade alimentar como objetivos
principais da agricultura e dos alimentos.
Porém, em anos recentes
comecei a ficar cada vez mais preocupado com a atitude da indústria orgânica de
comercializar seus produtos como alternativas mais saudáveis e mais seguras aos
alimentos convencionais. Eles não são. De fato, pela ciência da exclusão, os
produtores orgânicos podem contribuir com o aumento no risco dos consumidores de
contrair Escherichia coli e outros causadores de doenças que crescem em
alimentos.
O surto fatal e recente
de E. coli iniciado na Alemanha desviou a atenção para a validade dos
argumentos de que a comida orgânica é mais saudável e mais segura. O surto foi
traçado em brotos de feijão de uma fazendo orgânica em Bienenbüttel, nordeste
da Alemanha. Como a New Scientist anunciou, 35 pessoas morreram no surto e
outras centenas ficaram doentes. Como resultado, a preocupação está crescendo
em relação aos padrões de segurança microbiológica do alimento orgânico.
Então estamos mais suscetíveis à E. coli e outras doenças que crescem
em alimentos orgânicos e, logo, o que os produtores podem fazer para reduzir o
risco e restaurar a confiança da marca orgânica?
Há bem poucos estudos
científicos que compararam a segurança microbiológica nos sistemas de produção
de alimento convencional e orgânico. Em teoria, o alimento orgânico pode estar
mais propenso à contaminação microbiana devido à ausência de conservantes e ao
uso de estrume como fertilizante. Porém, em locais onde os estudos foram
feitos, os resultados não foram conclusivos. Isso é devido a vários fatores,
incluindo amostra de pequeno tamanho e variações regionais e sazonais.
O que está claro é tanto
os alimentos orgânicos como os convencionais são suscetíveis à contaminação por
microorganismos patogênicos em todos os pontos da cadeia alimentícia. Isso pode
ocorrer durante a produção, do estrume à água, durante o processamento no
ambiente e durante a manipulação final e empacotamento, possivelmente como
resultado de baixa higiene humana.
Uma área onde o sistema
de produção orgânica pode aumentar o risco à saúde é através do uso de estrume
não tratado como fertilizante. Estudos conduzidos entre a produção orgânica e
convencional por agricultores de Minnesota em 2004 encontraram que a
contaminação por E. coli foi 19 vezes maior em fazendas orgânicas que
utilizaram esterco ou composto orgânico com menos de 12 meses de idade que
agricultores que utilizaram materiais mais velhos.
Embora os riscos sejam
reduzidos à medida que o esterco envelheça, pesquisadores têm encontrado que
muitos organismos patogênicos, tais como E. coli e salmonela, podem sobreviver
facilmente por 60 dias ou mais em compostos orgânicos ou no solo, dependendo da
temperatura e das condições do solo.
Outro fator de risco
extra na produção orgânica é o não uso de fungicidas, o qual pode levar ao
crescimento de fungos e aumentar o risco de micotoxinas tais como aflatoxina e
o esporão do centeio nas culturas.
Levando esses riscos em
conta, e com os eventos recentes da Alemanha em mente, penso que os produtores
de alimento orgânico precisam se focar no gerenciamento do risco. Mais
pesquisas precisam ser feitas sobre a sobrevivência de patógenos na cadeia
alimentícia.
Também acredito que a
indústria orgânica deve deixar de lado suas suspeitas e desconfianças na
ciência em relação à produção de alimentos e perceber como ela pode introduzir
novos sistemas que reduzam o risco de surtos futuros de doenças alimentícias
fatais como a da E. coli.
A real tragédia do
incidente da E. coli na Alemanha é que o surto poderia ser prevenido se a
indústria orgânica tentasse irradiar seus produtos. A cultura de broto de
feijão que originou o surto requer um ambiente úmido e quente para crescer, o
que aumenta o risco de contaminação pela E. coli e outras bactérias que causam
doenças. A única certeza para reduzir esse risco é irradiar as sementes do
broto, pois mata efetivamente 99,999% da E. coli. Não há evidências de que isso
afete a qualidade nutricional do alimento.
Além desses fatos, a
indústria orgânica continua seu lobby contra o uso da irradiação. Quando o
ministro da agricultura do presidente Bill Clinton, Dan Glickman, propôs
incluir a irradiação à agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos da
América em 1998 - especificamente para reduzir o risco de E. coli - o
ministério da agricultura dos Estados Unidos da América recebeu mais de 300.000
petições individuais e de organizações estadounidenses e européias em oposição
a esse movimento. Como resultado, a cláusula foi removida da legislação final.
Se a indústria orgânica
quer manter a confiança deve mostrar que está apta a adotar tecnologias que
colocam a segurança do alimento em primeiro lugar. Se o alimento orgânico é
irradiado, então a tecnologia será amplamente aceita ao longo da cadeia
alimentícia em geral, e vida serão salvas. Isso é uma meta que cada produtor de
alimento deve se esforçar.
Dominic Dyer é executivo
chefe a Associação de Proteção ao Cultivo do Reino Unido em Peterborough e
possui muitos anos de experiência trabalhando com a indústria de alimento
orgânico.
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