Por George
Monbiot - The Guardian
Em nenhum momento no
registro pré-industrial as concentrações de dióxido de carbono no ar
ultrapassaram 300 partes por milhão. Agora chegamos a 400 ppm. O único caminho
a seguir é retroceder. E isso requer, antes de tudo, que deixemos a maioria dos
combustíveis fósseis que já foram identificados no solo.
Atingir 400 partes por
milhão é um momento de valor simbólico, uma estação da Via Dolorosa da
destruição ambiental. Os dados remetem a 800 mil anos atrás: é a idade das mais
antigas bolhas de ar fósseis extraídas de Dome C, um cume cercado por gelo no
alto da Antártida. E durante todo esse tempo não houve nada parecido com isso.
Em nenhum momento no registro pré-industrial as concentrações de dióxido de
carbono no ar ultrapassaram 300 partes por milhão (ppm). 400ppm é uma cifra que
pertence a uma era diferente.
A diferença entre 399ppm
e 400ppm é pequena, em termos de seus impactos sobre os sistemas vivos do
mundo. Mas este é um momento de importância simbólica, uma estação da Via
Dolorosa da destruição ambiental. É um símbolo da nossa incapacidade de colocar
as perspectivas de longo prazo do mundo natural e as pessoas que ele suporta
acima do interesse próprio imediato.
A única forma de avançar
agora é retroceder: refazer nossos passos e tentar retomar as concentrações
atmosféricas de cerca de 350ppm.
A única forma de avançar
agora é retroceder: refazer nossos passos e tentar retomar as concentrações
atmosféricas de cerca de 350 ppm, como demanda a campanha 350.org. Isso requer,
antes de tudo, que deixemos a maioria dos combustíveis fósseis que já foram identificados
no solo. Não existe um governo ou uma empresa de energia que tenha concordado
em fazer isso ainda.
Recentemente, a Shell
anunciou que vai avançar com os seus planos para perfurar ainda mais fundo do
que qualquer exploração de petróleo marinha havia ido antes: quase três
quilômetros abaixo do Golfo do México. Ao mesmo tempo, a Universidade de Oxford
abriu um novo laboratório em seu departamento de ciências da terra. O
laboratório é financiado pela Shell. Oxford diz que a parceria "é
projetada para apoiar o desenvolvimento mais eficaz dos recursos naturais para
atender o rápido crescimento da demanda global de energia." Que se traduz
em encontrar e extrair ainda mais combustíveis fósseis.
O Regime de Comércio de
Emissões europeu, que deveria ter limitado o nosso consumo, está agora, para
efeitos práticos, morto. As negociações internacionais do clima estão
estagnadas; governos como o nosso parecem agora silenciosamente estar largando
seus compromissos domésticos. Medidas práticas para evitar o crescimento das
emissões globais são, em comparação com a escala do desafio, quase
inexistentes.
O problema é simplesmente
enunciado: o poder das empresas de combustíveis fósseis é muito grande. Entre
aqueles que procuram e obtêm altos cargos há pessoas caracterizadas por uma
completa ausência de empatia ou escrúpulos, que vão tirar dinheiro ou
instruções de qualquer corporação ou bilionário que lhes ofereça, e, em
seguida, defender esses interesses contra as perspectivas atuais e futuras da
humanidade.
Este novo marco
climático reflete um profundo fracasso da política, no qual a democracia
silenciosamente foi suplantada pela plutocracia. Sem uma reforma generalizada
de financiamento de campanha, lobby e tráfico de influência e da corrupção
sistemática que promovem, nossas chances de evitar um colapso climático estão
perto de zero.
Então, aqui se encontra
a nossa classe política em uma estação ao longo da estrada da idiotice,
aparentemente determinada apenas em completar a viagem.
* George Monbiot é o
autor dos best-sellers The Age of Consent: a manifesto for a new world order e
Captive State: the corporate takeover of Britain. Ele escreve uma coluna
semanal para o jornal ‘The Guardian’. Visite o site em www.monbiot.com
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