Por Raul Juste Lores
A esquizofrenia tributária
está insuportável para os assalariados: Assalariado que ganha acima de 3.743,19
= 27,5% de Imposto de Renda. Comerciante (regime simples) com renda bruta por
ano de 360.000,00 = 0% de IR.
Brasil é campeão em
desigualdade tributária, diz BID. Estudo, que será lançado
hoje, mostra que imposto de trabalhadores de mesma renda pode variar até 10
vezes. País mantém maior carga
tributária da América Latina e lidera em número de horas para ficar em dia com
o fisco.
Um novo estudo do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) diz que o Brasil é o campeão em
"desigualdade horizontal" na hora de pagar impostos.
Ou seja, apresenta a
maior diferença entre o que é cobrado a trabalhadores com a mesma renda, apenas
pelo regime fiscal escolhido.
Um trabalhador em uma
empresa de um funcionário só, que paga o imposto Simples como pessoa jurídica,
contribui com o equivalente a um décimo do que paga o assalariado de igual
renda com carteira assinada.
Em outros países da
região, a diferença é irrisória, como no Chile, ou de menos de 3 vezes, como no
México.
O estudo de 388 páginas
será lançado hoje na sede do banco em Washington. Nele, confirma-se que o
Brasil tem a maior carga tributária da América Latina e que é o país do mundo
em que são necessárias mais horas para se preencher e pagar tributos (são 2.600
por ano).
"Sabemos que a
Receita Federal brasileira é moderna e já usa vários procedimentos on-line. Mas
o sistema tributário é complexo demais, há 15 impostos aonde deveriam haver 3
ou 4. Só no consumo, há 5 impostos incidindo sobre cada mercadoria", disse
à Folha uma das autoras da pesquisa, a economista argentina Ana Corbacho.
DISTORÇÃO
A crítica do estudo aos
regimes simplificados de impostos em boa parte da América Latina é que eles
estão causando uma "distorção".
"Eles foram criados
para simplificar a cobrança, mas hoje é cada vez mais custoso atender a milhões
de pessoas que optam por esse regime e pagam muito menos que os assalariados de
empresas grandes", diz Corbacho.
"Há um impacto na
produtividade, porque se incentiva o microempresário a não crescer, quando
sabemos que empresas maiores têm economia de escala, podem compartilhar custos
de contabilidade, recursos humanos, acesso ao crédito, que essas empresas
minúsculas não obtêm." Para ela, o Simples deveria ser
"transitório".
CESTA BÁSICA
A economista também
critica a isenção de tributos para alguns produtos apenas por estarem na cesta
básica. Para ela, ao se tirar o imposto de um alimento, quem mais se beneficia
é quem mais compra em quantidade esse alimento.
"O Estado arrecada
menos e os ricos são mais beneficiados por um subsídio", diz ela, que
prefere redistribuição de renda por outros meios, como "o Bolsa Família
brasileiro, o Oportunidades mexicano, educação, saúde".
"De 100 isenções
que estudamos no México, apenas 5 beneficiavam os mais pobres", diz. Ela
lembra que na Venezuela "o preço do combustível é altamente subsidiado, o
que favorece os mais ricos".
"Quanto mais pobre
a família na região, menor a quantidade de carros e maior o uso de transporte
público. Pedágio urbano, como Londres e Santiago do Chile já fazem, é mais
eficiente."
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