Por Delfim Netto
China, Índia, Coreia do
Sul e Bangladesh manipulam seus custos para ganhar mercado dos produtos
brasileiros. Hoje, de exportadores de calçados, vestuário, bicicletas,
automóveis e inúmeros produtos da linha branca, transformamo-nos em
importadores de produtos asiáticos.
A perda de dinamismo das
exportações da indústria brasileira e a substituição da produção nacional por
importações são o fruto de um cuidadoso descaso ideológico que comandou a
política cambial durante duas décadas, a partir da segunda metade dos anos 80
do século passado. Foi um período em que a nossa economia se deixou conduzir
conforme as “lições” do pensamento globalizante, segundo as quais os objetivos
das políticas de crescimento deviam concentrar-se na busca da estabilidade
macroeconômica e em garantir a credibilidade dos mercados financeiros. Os
governos deveriam esquecer aquela “breguice” de planejamento da expansão da
infraestrutura e de incentivos ao desenvolvimento industrial, principalmente.
As tais ideias “modernizantes” foram praticadas sistematicamente, mesmo diante
das evidências de que se estava destruindo o que havia de mais sofisticado em
nossa manufatura, enquanto o abandono da infraestrutura produziu os enormes
gargalos logísticos que respondem pelo substancial aumento do “custo Brasil”.
No período 1981-1984,
quando enfrentávamos os momentos mais dramáticos da segunda fase da crise de
preços do petróleo, a participação das exportações brasileiras com relação ao
mundo era de 1,2%, igual àquela da Coreia e da China. Durante o primeiro
mandato de FHC, uma política cambial alienante levou o País, em 1998, à beira
do “default”, o que representou séria ameaça à sua reeleição. Esta foi salva
graças a um “socorro” do FMI feito às pressas sob a intervenção política
intempestiva do governo americano. Chegamos assim à dramática queda do valor das
nossas exportações para apenas 0,9% do comércio mundial. Para quê? Para
esconder “artificialmente” a taxa de inflação!
Nos primeiros anos do
século XXI houve um princípio de recuperação em nossas exportações, graças à
maior oferta dos produtos da nossa agropecuária e da mineração, e em razão do
aumento dos preços no comércio mundial, devido à extraordinária expansão da
economia chinesa, principalmente, e de alguns de seus parceiros asiáticos.
Em 2012, o Brasil
exportou 242,6 bilhões de dólares, a Coreia 548,2 bilhões e a China 2,05
trilhões, respectivamente, 10, 20 e 80 vezes mais do que em 1984! O quadro
nesta página dá uma ideia do que aconteceu.
A composição atual das
nossas exportações sugere que elas serão menos elásticas no futuro em resposta
ao aumento da renda mundial, do que aquela dos países que exportam produtos
industrializados. Nossa indústria luta para reconquistar alguns espaços nos
mercados externos, mas em circunstâncias extremamente difíceis, porque, além de
a economia de antigos e bons clientes (Comunidade Europeia e associados
principais) estar submersa numa terrível crise de emprego, o próprio mercado
doméstico padece com a inundação de produtos estrangeiros a preços de dumping.
Hoje, de exportadores de
calçados, vestuário, bicicletas, automóveis e inúmeros produtos da linha
branca, transformamo-nos em importadores. E muitas de nossas fábricas não têm
como enfrentar a concorrência de produtos chineses, indianos, coreanos, de
Bangladesh, com seus preços manipulados por mil expedientes e subsídios
embutidos. São duas as causas principais que explicam a continuidade dessa
desleal competição com a nossa indústria: 1. Permitimos a desorganização do
sistema de tarifas efetivas protegendo os setores de insumos básicos. 2.
Permitimos que se produzisse uma forte valorização do câmbio, pelo aumento dos
salários nominais muito acima da taxa de câmbio nominal.
Há pelo menos quatro
anos, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) defende duas
providências fundamentais para o aumento dos investimentos e a recuperação do
desenvolvimento industrial: 1. Construir as condições para uma flutuação
organizada do câmbio nominal. 2. Comprometer-se com as políticas monetária,
fiscal e trabalhista que conduzam à moderação salarial e reduzam seus eventuais
efeitos inflacionários.
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