Por Deutsche Welle
Proibido em países da
Europa, método é condenado por oferecer riscos ao meio ambiente. Agência
Nacional do Petróleo garante o monitoramento, mas ONGs alertam para
contaminação da água e do solo.
Integrantes da bancada
dos partidos verdes no Parlamento Europeu realizam protesto em Bruxelas em
novembro de 2012, contra o uso do sistema de “fracking” na exploração de gás e petróleo
Uma polêmica técnica de
extração de gás natural, proibida em alguns países da Europa, será testada pela
primeira vez no Brasil. O fraturamento hidráulico (fracking, em inglês) é
questionado pela falta de estudos sobre possíveis danos ambientais.
A extração de gás
natural por meio de fraturamento hidráulico é considerada uma alternativa
diante do esgotamento das reservas naturais mais acessíveis. Para extrair o
gás, é preciso "explodir" as rochas. O processo começa com uma
perfuração até a camada rochosa de xisto. Após atingir uma profundidade de mais
de 1,5 mil metros, uma bomba injeta água com areia e produtos químicos em alta
pressão, o que amplia as fissuras na rocha. Este procedimento liberta o gás
aprisionado, que flui para a superfície e pode então ser recolhido.
Uma referênca sobre o
tema é um estudo feito pela Duke University, na Pensilvânia, em que os
cientistas chamaram a atenção para o aumento da concentração de metano na água
potável em locais próximos aos poços usados para o fraturamento hidráulico.
Potencial promissor
De acordo com a Agência
Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), com o fraturamento
hidráulico o Brasil poderia chegam à 10ª posição no ranking de maiores reservas
mundiais de gás de xisto, também conhecido como gás não convencional. A Agência
Nacional do Petróleo (ANP) pretende realizar em outubro um leilão sobre a exploração
desse gás. As bacias cotadas para entrar nesta rodada são a do Parecis (MT), do
Parnaíba (entre Maranhão e Piauí), do Recôncavo (BA), além das bacias do rio
Paraná (entre Paraná e Mato Grosso do Sul) e do Rio São Francisco (entre Minas
Gerais e Bahia).
Mas embora seja
promissora economicamente, a técnica controversa é criticada por
ambientalistas. "Há uma clara vontade política para que isso aconteça [a
exploração por meio de fraturamento hidráulico], especialmente após as recentes
avaliações muito otimistas sobre o potencial de gás de xisto em terra no
Brasil", disse à DW Brasil Antoine Simon, da divisão europeia da
organização internacional Amigos da Terra. A entidade assinou, junto com o
Greenpeace e outras organizações de proteção ao meio ambiente, uma carta
pública em que expõe os motivos para o posicionamento contrário ao
procedimento.
Para as entidades,
parece não haver qualquer debate sobre as questões ambientais, sociais e de
saúde sobre os impactos gerados por essa atividade. A própria ANP reconhece a
falta de estudos sobre os impactos ambientais da prática. "O tema
fraturamento hidráulico tem causado alvoroço na imprensa mundial, pois seus
riscos não foram esclarecidos plenamente", admitiu a assessoria de
imprensa da entidade. Na avaliação da ANP, o método possibilita aumentar a
produção de gás natural, mas ainda apresenta altos custos e complexidade nas
operações.
Risco de contaminação
Entre os principais
impactos ambientais alertados pelos especialistas estão a contaminação da água
e do solo, riscos de explosão com a liberação de gás metano, consumo excessivo
de água para provocar o fracionamento da rocha, além do uso de substâncias químicas
para favorecer a exploração. Ainda há a preocupação de que a técnica possa
estimular movimentos tectônicos que levem a terremotos.
Para o coordenador do
programa Mudanças Climáticas e Energia da organização ambientalista WWF-Brasil,
Carlos Rittl, os aspectos sociais e ambientais são totalmente ignorados:
"o único argumento por trás da exploração é o econômico", observa.
"Essa tecnologia não se provou segura em nenhum lugar do mundo."
Outro ponto questionado
pelo especialista é o fato de o Brasil investir na exploração de combustíveis
fósseis, em vez de apostar em fontes renováveis. Ele lembra que pelo menos 2/3
das reservas mundiais conhecidas precisam permanecer no subsolo para evitar o
aquecimento global.
"O Brasil é muito
abundante em fontes de energia de baixo impacto. O governo investe muito menos
em energia eólica e solar, em aproveitamento da própria biomassa da
cana-de-açúcar e de resíduos de madeira, por exemplo", considera.
Proibido na França e na Bulgária
O fraturamento
hidráulico é motivo de controvérsia em todo o mundo. De acordo com a
organização Amigos da Terra, o método é permitido na Polônia e no Reino Unido,
mas proibido na França e na Bulgária. Outros países europeus declararam
moratória à técnica de extração, com o objetivo de fazer uma análise mais
aprofundada sobre os impactos ambientais. É o caso da Irlanda, República
Tcheca, Romênia, Alemanha e Espanha.
O Greenpeace se
posicionou oficialmente contra o método. A instituição diz ter sérias
preocupações com os impactos diretos e indiretos sobre a saúde individual e
pública. Segundo a entidade, muitos desses impactos não são só locais, mas
podem ser sentidos em nível regional e mesmo global.
Produção de gás de xisto
De acordo com a ANP, há
registros de operações de fraturamento hidráulico convencional desde 1950 no
Brasil. A agência afirma que, desde então, mais de 6 mil operações foram
realizadas utilizando baixas pressões e vazões, sem registros de incidentes
graves. Não há experiência no Brasil de realização de fraturamento com volumes
de fluido e potência hidráulica nos níveis utilizados nos Estados Unidos, onde
se concentra a produção.
De acordo com a IEA, a
experiência norte-americana mostra que o gás não convencional pode ser
explorado economicamente. A produção de gás de xisto nos Estados Unidos
aumentou de forma acentuada a partir de 2005. Cinco anos depois, o gás de xisto
já representava mais de 20% da produção de gás do país.
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