Por Fernando Brito
Em 1942, jovem filósofo
francês Valentin Feldman, integrante da Resistência Francesa, diante de um
pelotão de fuzilamento formado por soldados do Governo de Vichy, aliado dos
nazistas, gritou para seus algozes, segundos antes de eles dispararem: Imbecis, é por vocês que vou morrer!
O comportamento da elite
brasileira, por vezes, lembra o daqueles franceses, que, por covardia e
interesses pessoais, tornaram-se agentes da dominação hitleriana sobre o país.
O Brasil jamais, em sua
história, foi mais um país de classe média como é hoje – não obstante ainda
termos uma legião imensa de excluídos. Parece mesmo irônico que o governo
petista viesse a repetir aquela frase com que procurava desqualificar, nos
tempos de imaturidade, Getúlio Vargas, apontado como “o pai dos pobres e a mãe
dos ricos”.
Ontem, o BC divulgou o
salto dos gastos de brasileiros no exterior: US$ 2,1 bilhões em abril de 2013,
17% acima do registrado em abril do ano passado. Nos quatro primeiros meses do
ano, passaram de US$ 8 bilhões.
É obvio que tamanha
gastança não é feita pelas elites tradicionais, apenas. Grande parte dela
provém da classe média que, deslumbrada com seu poder de compra crescente,
viaja à Turquia por causa da novela da Globo ou compra enxovais de bebês em
Nova York.
Não se está condenando
estas pessoas – embora haja coisas bem melhores para motivar viagens – mas
apontando a contradição entre o que podem hoje e o que se deixam levar a pensar
sobre o governo que sustenta um crescimento econômico que lhes permite o que,
antes, não podia fazer.
Mas é impressionante
como ela se deixa levar pelo catastrofismo econômico que, há anos e sob as mais
variadas formas, os porta-vozes da dominação financeira que subjugou este país
impõem através da mídia e daqueles que ela seleciona como “analistas de
economia”.
Porque é ele, o mundo
das finanças e dos ganhos astronômicos que não perdoa que, em parte, tenha tido
de moderar seus apetites sobre a carne suculenta deste país que, antes, devoravam
sem qualquer moderação.
Ontem, o Brasil 247 pôs
o dedo na ferida: embora a inflação inicie uma trajetória de queda, a economia
aumente sua atividade e o IBGE acabe de registrar o menor índice de desemprego
para o mês de abril em 11 anos, a pressão do catastrofismo não dá tréguas. O 247 vai ao ponto: eles
querem é mais juros.
Os juros que, aliás, a
classe média paga em seu consumo.
Como os soldados de
Vichy, eles seguem o que os colaboracionistas da dominação lhes ordenam. E nem
percebem que são ordens, acham que é mesmo aquilo o que pensam.
Felizmente, também como
na França ocupada, eles são minoria, como provam as pesquisas de opinião sobre
a popularidade do Governo Dilma.
Mas são os que têm voz,
pelos meios de comunicação.
Porque nós, os que
defendemos uma trajetória de libertação e avanço deste país, não falamos. E,
quando falamos, nos fixamos muito mais na crítica às concessões que a política
obriga um governo progressista a fazer.
E, sob este clima, toda
sorte de oportunismos se espalha: os marinismos, as chantagens parlamentares do
PMDB, a dança com que Eduardo Campos se oferece como alternativa à direita,
desfalcada de um José Serra que afunda – atirando, aliás – e um Aécio Neves que
não decola.
E, tal como naquela
França do pré-guerra, não vão faltar figuras como a de Pierre Laval, que passou
de socialista a expoente da direita e um dos maiores colaboradores dos alemães.
Se não entendermos que
teremos, nas eleições do ano que vem, de enfrentar corações e mentes desta
classe média ascendente com o máximo de solidez possível na base de apoio ao
Governo progressista, estaremos correndo sérios riscos.
Isso, de maneira alguma,
significa deixarmos de pensar o que pensamos e combater desvios – políticos e
pessoais – do poder.
Mas, também, e jamais,
esquecermos que a luta que se trava é maior e mais, muito mais, importante e
vital.
É pelos direitos do povo
brasileiro – mesmo os de sua classe média – de viver melhor, num país livre,
que não mais será escravo de ninguém.
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