Por Ronaldo Bicalho e Felipe de Souza
Em Dezembro de 2012, a China tomou o lugar dos
Estados Unidos como o maior importador de Petróleo do mundo. Nesse mês, de
acordo com dados preliminares da US Energy Information Administration, a China
importou o correspondente a 6,12 b/d enquanto os Estados Unidos importaram 5,98
b/d. Os americanos lideravam o ranking dos importadores desde meados dos anos
1970 e, apesar dos dados se referirem apenas ao mês Dezembro e no consolidado
do ano os EUA seguirem liderando, analistas acreditam que essa ultrapassagem
mensal sinaliza claramente a tendência de longo prazo de supremacia chinesa nas
importações mundiais de petróleo.
Embora a China seja o maior produtor de carvão do
mundo, a forte expansão do consumo e os preços domésticos desfavoráveis fizeram
com que a importação de carvão começasse a crescer a partir de 2002; de tal
forma que em 2009 o país já era um importador líquido e em 2010 ocupava o
segundo lugar no ranking mundial de importações carboníferas, perdendo apenas
para o Japão.
Mesmo no caso do gás natural, a China se tornou um
importador dessa fonte de energia pela primeira vez em 2007. Desde então a
participação da importação líquida cresceu fortemente, saltando de 2% do
consumo nesse ano para 22% em 2011.
Assim, a China, que em 1971 apresentava uma
importação líquida negativa, correspondente a (-) 0,5% da sua demanda total de
energia, em 2010 importava 14 % da energia que consumia e era responsável por
8% das importações mundiais de energia.
Dessa maneira, o vigoroso crescimento econômico
chinês, que levou o país a ultrapassar o Japão e ocupar a posição de segunda
maior economia do mundo, foi acompanhado de um forte aumento no consumo de
energia, que levou o país a superar os Estados Unidos e, desde 2009, ocupar a
posição de maior consumidor de energia do mundo. Mais do que isso, esse boom
econômico e essa explosão do consumo de energia foram acompanhados por um
acentuado aumento da dependência energética.
Aumento esse que colocou a segurança energética como
uma questão essencial para o Estado chinês, gerando consequências que
transcendem a política energética e alcançam a grande estratégia geopolítica
chinesa.
Dada a extensão do controle do Estado chinês sobre a
economia, a gestão dos recursos energéticos é crucial e requer que o governo
desempenhe um papel muito mais intrusivo e proativo que no caso das outras
grandes economias. Isto implica que a formulação das questões relacionadas à
segurança energética na China se pleiteia de forma mais ampla e complexa no que
diz respeito aos planos e ações do Estado.
Nesse sentido, é claro para Pequim que a segurança
energética é fundamental para a segurança econômica e essa, por sua vez, é
essencial para a segurança nacional.
Desde 1949, a China apostou em um desenvolvimento
independente que se refletiu em uma estratégia autárquica de abastecimento
energético, fundada na autossuficiência, na utilização dos seus próprios
recursos para atender à sua demanda de energia.
Assim, explorar e controlar esses recursos fazia
parte da própria noção chinesa de soberania.
Essa ênfase na autossuficiência se coaduna com uma
concepção de política externa cuja visão do sistema internacional está
intimamente ligada a percepção da ameaça externa como sendo fundamental para a
construção da identidade do Estado e para a legitimação do regime.
O crescimento da dependência energética representa
uma inflexão nessa estratégia, na medida em que ele requer uma integração mais
profunda com os mercados financeiros e de energia; ao mesmo tempo em que
levanta questões geopolíticas profundas em relação ao papel da China na região.
É evidente que esse conjunto de questões afeta
obrigatoriamente a própria concepção da política externa e, em consequência, a
própria forma de inserção da china no sistema internacional.
Assim, a maior dependência energética muda não só a
política energética chinesa, mas sua política externa. Política externa essa
vista como chave para a sua segurança nacional que, nesse caso, significa a
manutenção do suprimento energético vital para a sua expansão econômica.
A busca por maior segurança energética está mudando
a política energética chinesa e terá impactos significativos no âmbito global.
Uma China ávida por energia e disposta a ir buscá-la
onde ela estiver passa a ser um ator chave na evolução da trama energética
mundial. Trama essa que provavelmente ultrapassará em muito não só as
fronteiras chinesas, mas, acima de tudo, as próprias fronteiras da energia.
Comentários
Postar um comentário