Por Carta Maior
Republicamos esta reportagem veiculada em 2011 por
sugestão de um de nossos leitores, acompanhada de uma nota da redação. Trata-se
de uma análise sobre as relações entre 43.000 empresas transnacionais que
conclui que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder
desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
New Scientist
Nota da Redação
Por indicação do leitor Pedro, cujo comentário segue
abaixo, republicamos esta reportagem indicada por ele – a qual, aliás, à época
da publicação aqui em Carta Maior, teve muita repercussão. Ao nosso leitor
Pedro, agradecemos a lembrança e esclarecemos que nem sempre é possível
enfrentar os temas da forma que gostaríamos, tendo em vista a conjuntura que
somos obrigados a acompanhar no dia-a-dia.
Caminhamos no fio da navalha, tendo de cada lado desse
fio abismos profundos e, portanto, perigosos. De um lado, a grande mídia que
está sempre a serviço do capital financeiro internacional. De outro lado, um
governo fragilizado pela obrigatória composição política, necessária para a
governabilidade.
Nesses termos, Carta Maior procura trazer a seus
leitores o que há de melhor no mundo colonizador, desenvolvido, hoje às voltas
com bestiais incertezas, tanto no primeiro como no segundo império, mostrando
os erros que cometeram e buscando a solução de suas respectivas crises.
Não há como fazer perguntas "revolucionárias"
a um conservador. Temos, sim, que arrancar deles as contradições que vicejam no
capitalismo. Também não estamos buscando soluções para resolver os problemas do
capitalismo. Nos cabe, sim, demonstrar os erros que eles cometeram e que
repetem a todo momento, para poder combater o pensamento conservador aqui no
Brasil, espelhado pela grande imprensa, em favor das elites, em favor do
capital financeiro nacional e internacional, em favor da concentração de
capital, cada vez mais radicalizada.
Lamentavelmente não existe um modelo político que
possamos "copiar" como solução. O Brasil é um país capitalista, por
opção do povo brasileiro. As pesquisas de opinião que vêm sendo reveladas
cotidianamente são a prova disso. O povo brasileiro está contente com a vida que
está levando e vai querer mais, à medida que suas conquistas se cristalizarem.
O espaço das esquerdas ficou muito estreito, quase
relegado à periferia das sociedades, principalmente quando os países alcançam o
desenvolvimento e conquistas sociais, como no Brasil, onde milhões deixaram a
linha da miséria e passaram para outro patamar – que não é o da classe média,
ou da classe "C", tão decantada pela mídia, mas um outro patamar, que
está sendo capaz de sustentar um governo progressista, cheio de defeitos e
algumas virtudes, como é o da presidenta Dilma Rousseff.
Comentário do leitor Pedro à reportagem ‘Economia
mundial ainda enfrenta campo minado’, de Marcelo Justo:
As perguntas do entrevistador e as respostas do
entrevistado são de natureza conservadora. Segundo o que caracteriza a ambos,
parece que uma boa política econômica resolveria os problemas do capitalismo.
Segundo o que penso, nem os capitalistas são capazes mais de salvar o
capitalismo da bancarrota. Penso que a questão do momento é a radicalidade da
concentração capitalista que atingiu níveis revolucionários. Recomendo a ambos
ler: Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo Da New Scientist -
22/10/2011 - que a própria Carta Maior publicou na época.
Nota introdutória
publicada por Ladislau Dowbor em sua página:
The Network
of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011
Um estudo de grande importância, mostra pela primeira
vez de forma tão abrangente como se estrutura o poder global das empresas
transnacionais. Frente à crise mundial, este trabalho constitui uma grande
ajuda, pois mostra a densidade das participações cruzadas entre as empresas,
que permite que um núcleo muito pequeno (na ordem de centenas) exerça imenso
controle. Por outro lado, os interesses estão tão entrelaçados que os
desequilíbrios se propagam instantaneamente, representando risco sistêmico.
Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a
crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da
intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas
Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que
na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras
empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da
mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25
de anexos metodológicos. Está disponível online gratuitamente, no
sistemaarxiv.org
Um excelente pequeno resumo das principais implicações
pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).
(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões
entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia
mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma
A rede capitalista que
domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham
pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas
transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um
poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas
complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e
identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir
além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre
mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho.
"Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle
econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas
para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos
mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos
disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle
entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas
poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos
incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos
de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de
controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos
instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de
quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas
transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas,
construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico
mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou
um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras
empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder
econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas
em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as
chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a
economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade
econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede
de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de
147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total
daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla
40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a
concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode
ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes
são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o
problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a
economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode
não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande
demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo
global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado
intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre
si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores
interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super
conectadas
- Barclays plc
- Capital Group Companies Inc
- FMR Corporation
- AXA
- State Street Corporation
- JP Morgan Chase & Co
- Legal & General Group plc
- Vanguard Group Inc
- UBS AG
- Merrill Lynch & Co Inc
- Wellington Management Co LLP
- Deutsche Bank AG
- Franklin Resources Inc
- Credit Suisse Group
- Walton Enterprises LLC
- Bank of New York Mellon Corp
- Natixis
- Goldman Sachs Group Inc
- T Rowe Price Group Inc
- Legg Mason Inc
- Morgan Stanley
- Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
- Northern Trust Corporation
- Société Générale
- Bank of America Corporation
- Lloyds TSB Group plc
- Invesco plc
- Allianz SE 29. TIAA
- Old Mutual Public Limited Company
- Aviva plc
- Schroders plc
- Dodge & Cox
- Lehman Brothers Holdings Inc*
- Sun Life Financial Inc
- Standard Life plc
- CNCE
- Nomura Holdings Inc
- The Depository Trust Company
- Massachusetts Mutual Life Insurance
- ING Groep NV
- Brandes Investment Partners LP
- Unicredito Italiano SPA
- Deposit Insurance Corporation of Japan
- Vereniging Aegon
- BNP Paribas
- Affiliated Managers Group Inc
- Resona Holdings Inc
- Capital Group International Inc
- China Petrochemical Group Company
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