Por Eduardo
Guimarães
Ao longo do mês que finda, veio se fazendo notar uma
subida de tom de grandes grupos de mídia contra Dilma, quem, até há pouco,
gozava de condescendência por parte desses grupos, os quais, ao longo dos dois
primeiros anos do governo dela, concentraram a artilharia em Lula e no PT,
poupando-a.
Nesse aspecto, editorial recente do jornal O Estado de
São Paulo surpreendeu ao usar um tom que poucas vezes se viu contra um
governante no pós-redemocratização. Só contra Lula – que, pelo senso comum, era
menos aceitável para esse veículo do que a atual presidente – a virulência foi
tão intensa.
No último dia 21, em editorial intitulado “Dilmês
castiço”, o jornal da família Mesquita pôs a crítica política de lado e partiu
para a xingação ao afirmar que a presidente da República teria “dificuldade de
concatenar ideias, vírgulas e concordâncias”, ao qualificar como “desastrada”
sua “condução da política econômica” e ao acusa-la de “despreparo” e de usar
“frases estabanadas e raciocínio tortuoso”.
O editorial, pouco objetivo em argumentos, preferiu
criticar algum escorregão no português da presidente, como se já tivesse
existido algum governante capaz de jamais infringir a gramática ou a norma
culta durante falas improvisadas – o Google pode recompensar quem se dispuser a
caçar escorregões de FHC no uso do idioma.
O mesmo tom desrespeitoso e insultuoso usado pelo
Estadão contra Dilma, nas últimas semanas vem sendo visto com frequência na
revista Veja, no jornal O Globo, na revista Época, na Folha de São Paulo etc.
Quem tiver memória do período imediatamente anterior ao
golpe de 1964, deve estar experimentando um déjà vu. Os editoriais e artigos
que esses veículos publicavam usavam tom idêntico, apelando ao xingamento e a
acusações à ética e à capacidade administrativa de Jango Goulart que
dispensavam fatos.
Em pronunciamento feito da tribuna do Senado em
setembro do ano passado, o senador pelo PMDB do Paraná, Roberto Requião,
lembrou o uso que esses mesmos veículos de hoje faziam do xingamento contra
Jango. Veja, abaixo, um trecho.
“Às vésperas do golpe de 1964, o desrespeito da grande
mídia para com o presidente João Goulart e sua mulher Maria Teresa chegou ao
ponto de o mais famoso colunista social do país à época publicar uma nota
dizendo que na Granja do Torto florescia uma trepadeira. Torto, como referência
ao defeito físico do presidente; trepadeira, como referência caluniosa à
primeira-dama do país”.
Até aí, não haveria nenhuma novidade se não fossem
boatos que vêm circulando na internet e que, nas últimas 24 horas que
antecederam este texto, chegaram a este blogueiro por vias menos nebulosas,
ainda que sem comprovação.
Duas pessoas conhecidas por este que escreve – e
desconhecidas entre si – relataram a mesma história: funcionário da embaixada
dos Estados Unidos em Brasília teria presenciado conversa em inglês entre um
membro daquela representação diplomática e o embaixador Thomas Shannon.
Segundo os relatos, os diplomatas discutiam o
envolvimento norte-americano na eleição do ano que vem e seus contatos com
grupos de mídia e partidos de oposição, entre outros. Uma das fontes afirma que
os EUA estariam empenhados em pôr fim à “onda vermelha” que teria engolfado a
América Latina e, sobretudo, a América do Sul.
Nesse contexto, a volta da direita ao governo do Brasil
teria o condão de desencadear um efeito dominó que reverteria uma independência
da região que estaria na base das dificuldades dos Estados Unidos de superarem
a crise econômica na qual estão mergulhados desde meados da década passada.
A indústria ianque, por exemplo, estaria enfrentando
dificuldades para exportar para a América Latina em razão de sua exagerada
aproximação com a China e com outros países asiáticos. Acordos comerciais de
interesse norte-americano estariam sendo bloqueados por governos
“excessivamente independentes”.
A aliança pela “libertação” do Brasil da tal “onda
vermelha” envolveria os próprios Estados Unidos e, do lado brasileiro, grupos
de mídia, partidos de oposição e lideranças políticas como Aécio Neves, Marina
Silva e Eduardo Campos, bem como setores do Ministério Público e do Supremo
Tribunal Federal.
Teoria da conspiração? Pode ser. Não se pode afirmar
que esses relatos procedam sem que os relatores apresentem provas. Mas tampouco
dá para descuidar de hipóteses tão verossímeis, dado o histórico da relação
promíscua entre os EUA e setores da elite latino-americana. Vale abrir o olho.
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