Por Eduardo
Guimarães, no Blog da Cidadania:
Ouso dizer que se de repente a Globo simplesmente
evaporasse da face da Terra, nem os outros braços do aparato
político-ideológico-midiático que a organização multimídia da família Marinho
lidera iriam chorar por seu sumiço; comemorariam com fogos de artifício.
A parcela da sociedade política e ideologicamente
alinhada aos governos progressistas que há uma década vêm conseguindo manter o
poder contra essa máquina midiática, vem cometendo um erro de avaliação sobre o
que convencionou chamar de “grande mídia”.
Hoje, no Brasil, há um só grupo de mídia que, nadando
contra a corrente que arrasta outros grandes grupos, vem obtendo lucros
estratosféricos, crescendo e se solidificando a cada ano: as Organizações
Globo.
É um fenômeno impressionante. De 2002 a 2012, a Globo
perdeu 22% de sua audiência em rede nacional. Em 2002, no Painel Nacional de
Televisão (PNT), a média diária da emissora, entre 7h à 0h, era de 22,2 pontos.
De janeiro a agosto de 2012, a média diária foi de 17,4 pontos. Cada ponto equivale
a 191 mil domicílios no país.
Em uma década, porém, a participação da Globo nos
investimentos publicitários em TV aberta se manteve em 70%. O faturamento bruto
da TV aberta da Globo com anúncios passou de R$ 5,65 bilhões em 2002 para R$ 18
bilhões em 2011.
Mais impressionante ainda: o lucro da Globo, ano
passado, subiu 36% e chegou a R$ 2,9 bilhões – um aumento de 35,9% ante o
resultado do ano anterior –, apesar da queda de audiência.
O paradoxo entre queda de audiência e aumento do
faturamento se deve à estratégia multimídia das Organizações Globo. Além da
principal emissora de TV do país, o grupo também detém jornais e revistas, além
de participação em empresas como a Net e Sky e nos canais pagos da Globosat,
como SporTV, Multishow e Telecine.
Não existe país nenhum no mundo com um império de
comunicação como esse.
Isso ocorre enquanto outros grandes grupos de mídia
como a Rede Record, o Grupo Folha, o Grupo Estado e a Editora Abril vêm
amargando seguidos prejuízos.
O mais impressionante é o resultado publicitário da
Globo no que tange a verbas oficiais. Apesar da queda de audiência, as
plataformas de mídia globais açambarcam 64% das verbas de publicidade do
governo federal.
Como resultado dessa ditadura midiática e política, os
irmãos João Roberto, Roberto Irineu e José Roberto Marinho ocupam,
respectivamente, o 7º, o 8º e o 9º lugares na lista que a revista Forbes
publica dos homens mais ricos do Brasil.
João Roberto e Roberto Irineu acumulam hoje uma fortuna
de 8,7 bilhões de dólares cada um. Já José Roberto tem uma fortuna estimada em
8,6 bilhões de dólares.
Como não existe um marco regulatório que vete a
monopolização de tantas plataformas de mídia – que, em enorme parte, são
concessões públicas entregues aos Marinho pelo governo federal –, enquanto a
Globo lucra como nunca os grupos de mídia que atuam politicamente em
consonância com a ditadura global vão ficando com as gordas migalhas que caem
da mesa, mas que não bastam para impedir-lhes os problemas financeiros.
Mas por que, então, vemos impérios de comunicação como
o Grupo Folha, o Grupo Estado, a Editora Abril e outros aliarem-se à guerra
aberta que a Globo, de forma aparentemente inexplicável, trava com um governo
federal que se entrega à sua voracidade por dinheiro e concessões públicas?
A questão parece ser muito mais ideológica do que
prática. Apesar de forrar as Globos com a parte do leão das verbas e das
concessões públicas, os governos do PT são vistos pelo resto da grande mídia
como inimigos do capitalismo.
As famílias Frias, Mesquita, Civita e congêneres acham
que um governo tucano, por exemplo, distribuiria mais benesses ainda e as
salvaria de uma situação que, em verdade, deve-se à voracidade Global.
Assim, os governos do PT tornaram-se o inimigo comum de
grupos de mídia que, por trás da aparente cordialidade, são adversários ferozes
na disputa pelas benesses do Estado.
Mas a Globo não prejudica o resto da comunicação no
Brasil apenas ficando com quase tudo em termos de publicidade oficial e privada.
A hegemonia da organização da família Marinho prejudica o país ao impor
costumes, vetar projetos governamentais, leis, ao difundir ignorância,
preconceito e muito mais.
O padrão “racial” da publicidade e da televisão
brasileiras, por exemplo, que exclui a verdadeira etnia de nosso povo, é
oriundo de uma visão da Globo sobre o país. Novelas, publicidade, tudo o que se
vê retrata um país de aparência europeia porque a Globo criou e mantém esse
padrão.
A ausência de programas que discutam o país, que se
aprofundem em debates importantes, inclusive políticos, é oriunda de uma
programação da Globo feita para emburrecer e alienar o espectador.
Como a Globo é uma receita de sucesso, seu padrão é
seguido pela concorrência na mídia eletrônica, sobretudo na televisão. Haja
vista as cópias de excrescências como o Big Brother em outras emissoras, das
novelas bobinhas com elenco ariano etc.
A teledramaturgia global, em particular, é dramática –
para fazer um trocadilho. Novela após novela é encenada no eixo Rio-São Paulo,
com enredos que se repetem sem parar, com vilões e mocinhos – e mocinhas –
idênticos, sempre exaltando as classes sociais abastadas a que a cúpula da
Globo pertence.
Todo esse poder da Globo se deve à sua
capacidade de chantagear a classe política. Executivo, Legislativo e Judiciário
ajoelham-se no altar Global de Norte a Sul do país. Nem a Presidência da
República escapa.
Apesar de não vir conseguindo eleger o presidente da
República desde 2002, a Globo, ao levar escândalos reais e inventados ao Jornal
Nacional, novelas, programas humorísticos etc., selecionando os que quer expor
e os que quer esconder, consegue a subserviência da República aos seus ditames.
Se até os grandes grupos de mídia além da Globo estão
sendo sufocados por ela, imaginemos o que acontece com a mídia dita
“alternativa”, que deve desaparecer em poucos anos se nada mudar.
Todavia, a própria grande mídia – Globo excluída – não
deve resistir tanto assim. Com o passar do tempo, os Marinho irão adquirindo
participações de tudo até que estabeleçam um imenso monopólio da comunicação
nacional.
Não existe um só país da importância do Brasil e no
qual vigore regime verdadeiramente democrático que tenha praticamente toda a
comunicação nacional sob o tacão de uma única família, de um único império
empresarial de comunicação.
Após uma década de governos progressistas que
conseguiram distribuir renda, diminuir a pobreza e avançar em termos de
solidificação da economia, com aumento exponencial de infraestrutura etc., o
Brasil caminha para a Idade Média nas comunicações.
Como livrar o pais da ditadura da Globo? Boa pergunta.
Se nem após dez anos de governos do PT conseguimos dar um mísero passo para desconcentrar
o poder que a família Marinho começou a acumular graças à ditadura, parece
quase impossível mudar isso agora.
A Globo não tem hoje menos poder, tem mais, muito mais.
E esse poder está crescendo a cada ano. E se em 2013 conseguir colocar um despachante
no lugar de Dilma no Palácio do Planalto, melhor será mudar o nome do país para
República Global do Brasil.
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