Por Saul Leblon
Há três semanas, o conservadorismo comanda as
expectativas do país.
O carnaval do tomate e a furor rentista marcaram a
segunda quinzena de abril.
Deu certo.
No dia 17, o BC elevou os juros.
Ato contínuo, vários indicadores desautorizaram as
premissas da terapia ortodoxa.
Os preços dos alimentos – não o único, mas um fator
sazonal importante na pressão inflacionária – perderam fôlego. O do tomate
desabou.
Não apenas isso.
O cenário internacional desandou.
Recordes de desemprego na Europa vieram se somar à
deflação das commodities, ademais da decepção com a velocidade da retomada nos
EUA.
Tudo a desaconselhar o arrocho pró-cíclico evocado
pelos especialistas em incursões aos abismos e às bancarrotas.
Há cinco anos eles advertem que a resistência do Brasil
à crise é um crime contra o mercado.
Nenhuma voz do governo ou do PT soube salgar o
diagnóstico conservador com a salmoura pedagógica das evidências opostas.
Dilma poderia ter ido à TV. É sua responsabilidade esclarecer
a opinião pública quando o futuro do país esta sendo ostensivamente jogado na
sarjeta das manipulações.
Não significa mistificar os problemas, que existem.
Mas, sim, separa-los de interesses que não são os do
país.
Disputar as expectativas, em certos momentos, é mais
decisivo do que acionar medidas no varejo.
Se Lula ficasse mudo em 2008, o jogral pró-cíclico
faria do Brasil um imenso Portugal.
O quadro hoje é outro?
Sempre é outro.
É para isso que existe governo. Se a história fosse
estável e previsível , bastariam burocracias administrativas.
Veio a terceira quinzena de abril.
Enquanto o PT se preocupa com Eduardo Campos, o
verdadeiro partido oposicionista alimentava um clima de dissolução
institucional.
É só aquecimento: o lacerdismo togado e seu diretório
midiático podem muito mais.
A pauta da ‘caça ao Lula’ voltou às manchetes.
Grunhida pela boca do casal Gurgel e esposa,
sub-procuradora Claudia Sampaio.
Em linha com a nova tradição latino-americana, a da
implosão institucional de governos progressistas, o lacerdismo togado avança na
sua especialidade: a farsa em forma de grave denúncia.
O STF desautorizou o Congresso a analisar a PEC que
fortalece o espaço do Legislativo na divisão dos poderes.
A ideia de um Judiciário que determine o que o
Congresso pode e o que ele não pode discutir e votar é estranha à democracia.
Mas não ao método conservador.
Que pauta um Brasil cada vez mais explícito, à direita,
em seus duetos e sintonias .
Há certeza de uma impunidade consagrada no poder de
difusão conservador.
Ela explica a desenvoltura de personagens que se
dispensam do recato e da liturgia observada nos velhos conspiradores.
Joaquim Barbosa se manifesta como uma extensão de
Merval Pereira.
E vice-versa.
Gurgel acossa Lula e agasalha o líder de Carlinhos
Cachoeira no Congresso, Demóstenes Torres, com uma aposentadoria de R$ 22 mil.
E ninguém dá gargalhadas.
Como diz o senador Requião, falta humor à crítica
política.
Falta também capacidade de se escandalizar.
Um delegado ex-integrante do aparato da ditadura diz
que Otávio Frias e Sergio Fleury eram parceiros de teoria e prática.
Tomavam chá das cinco no DOPS.
Dá para acreditar?
Dá para ter certeza de que as veladas ligações entre o
dispositivo midiático e a ditadura precisam ser investigadas. Por uma comissão
de verdade.
Quem se dispõe?
Silêncio constrangedor.
O ministro Mercadante defende a Folha e o ‘seu’ Frias –
como ele se refere ao falecido pai de Otavinho, em nota tocante.
Toffoli, ministro do Supremo, dá ultimato ao Congresso:
os representantes do povo tem 72 horas para explicar o que estão pretendendo
discutir...
Paulo Bernardo alia-se ao oligopólio da mídia.
A Secom sustenta a Globo.
E o sub do sub do Banco Central vai discursar no Banco
Itaú, espécie de diretório informal do PSDB. Prega o choque de juros.
O piloto sumiu.
Esse filme não é novo.
E nunca acaba bem.
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