Pular para o conteúdo principal

João Goulart, uma pequena história

Por Hélvio Rech
Nesta semana estive em São Borja, Rio Grande do Sul, a terra dos presidentes. 
Visitei a casa onde JANGO viveu desde os nove anos e sua adolescência. Hoje a casa foi restaurada e transformada em Museu. Abriga algumas peças de uso do ex-presidente, documentos pessoas e da família, além de um bom acervo fotográfico.
No final do dia fui "matear" com um velho “galdério bonacho” quase octagenário que conviveu com o Jango. Era muito amigo do gerente de Jango na empresa de compra e venda de gado. Esteve com Goulart em muitas ocasiões. Também conhecia as fazendas de Jango em Taquarembó, Uruguai e Mercedes, Argentina.
Ele esteve presente no velório de João Goulart em São Borja. Seu relato é bastante interessante. Perguntei-lhe qual sua opinião sobre Getúlio e Jango, dado sua convivência com os ex-presidentes, e em sua opinião qual deles era mais preparado e sua resposta foi direta: Getúlio foi um estadista.
Afirma que Jango foi assassinado. Nos dias que antecederam sua morte, ele encontrava-se bem disposto em sua fazenda em Taquarembó. Mas é sabido que o governo uruguaio que o tinha recebido após sua deposição pelo militares brasileiros, tinha sido derrubado com a implantação da ditadura me que nos últimos três anos ela havia fixado sua residência na Argentina de Peron.
Com a morte de Peron e o golpe militar, a Argentina não tinha mais disposição de continuar concedendo asilo político a Jango. Há relatos, que devido o longo período no exilo e com o cerco dos militares argentinos, João Goulart estava negociando seu retorno ao Brasil. Foi neste ambiente que ocorreu sua morte e que surpreendeu a muitos dadas as circunstâncias.
De Taquarembó, Jango se deslocou de lancha até a Argentina, em sua fazenda em Mercedes. Durante a noite deste mesmo dia teve um ataque fulminante e veio a falecer. Dai em diante uma série de circunstâncias são poucas explicadas, como a demora na chegada do médico e a negação do médico em dar o atestado de óbito (aliás, o primeiro médico se negou a tocar no corpo do ex-presidente). Diz que o médico que atestou sua morte nunca mais apareceu. Corre uma lenda de que, ainda na Argentina, havia sido retirada todas as vísceras e em seguida o corpo havia sido embalsamado. O corpo veio da Argentina através de Uruguaiana escoltado por militares. Lembremos que nesse período havia forte integração entre as ditaduras no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile, na famosa Operação Condor.
Em São Borja os militares não permitiam que a população desse seu último adeus. Na longa fila de despedida, os militares rudemente falavam: olhe e vai andando, e em seguida empurravam as pessoas, uma a uma. Ninguém podia chegar perto, permanecer por alguns minutos, e muito menos, tocar no caixão.
Certa ocasião observou-se uma secreção nas narinas de Jango. O médico e familiares queriam analisar, mas os militares não deram autorização para abrir o caixão, nem tocar no corpo. Familiares argumentavam que o procedimento poderia ser feito facilmente, bastando deslocar o corpo alguns metros até a sacristia, na própria igreja e em seguida retornar ao local do velório. Os militares reafirmaram que ninguém estava autorizado a tocar no corpo.
No entanto, foi observado algodão nas fossas nasais, indicando que o caixão poderia ter sido aberto para análise do médico, ou pelo menos, teriam sido aberto a "viseira" de vidro que mostrava a face do presidente deposto.
Alguns meses atrás o médico foi ouvido pela Comissão da Verdade. Depois disso, algumas manifestações na mídia de que a morte do Presidente Jango poderia ser investigada. O Brasil precisa saber da verdade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por que a luta por liberdade acadêmica é a luta pela democracia

Por Judith Butler Muitos acadêmicos se encontram sujeitos à censura, à prisão e ao exílio. Perderam seus cargos e se preocupam se algum dia poderão dar continuidade às suas pesquisas e aulas. Foram privados de seus cargos por causa de suas posições políticas, ou às vezes, por pontos de vista que supõem que tenham ou que lhes é atribuído, mas que não eles não têm. Perderam também a carreira. Pode-se perder um cargo acadêmico por várias razões, mas aqueles que são forçados a deixar seu país e seu cargo de trabalho perdem também sua comunidade de pertencimento. Uma carreira profissional representa um histórico acumulado de uma vida de pesquisa, com um propósito e um compromisso. Uma pessoa pensa e estuda de determinada maneira, se dedica a uma linha de pesquisa e a uma comunidade de interlocutores e colaboradores. Um cargo em um departamento de uma universidade possibilita a busca por uma vocação; oferece o suporte essencial para escrever, ensinar e pesquisar; paga o salário que lib

54 museus virtuais para você visitar

American Museum of Natural History ; My studios ; Museu Virtual Gentileza ;

O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade: Introdução geral do livro "Por uma outra globalização" de Milton Santos

Por Milton Santos Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mun­do físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente percebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, q