Por João Sicsu
Não pensei em escrever para homenagear Hugo Chávez. Ele merece.
Mas já li tantas homenagens que me senti contemplado. Resolvi, contudo,
escrever. O motivo: indignação.
Em uma rádio de grande audiência dedicada ao jornalismo, que vai
ao ar no Rio e em São Paulo, todos os dias às 8h42 da manhã há uma sessão de
humor. Quinta-feira, 7 de março, contaram piadas com muitas risadas sobre a
morte do presidente venezuelano.
Esse é o tipo de jornalismo e humor que ofendem os bons humoristas
e profissionais da comunicação. Duvido que fizessem essas piadas sobre a morte
de seus milionários patrões que enriquecem no mercado concentrado de
comunicação. A indignação e o repúdio ao desrespeito me levaram a coletar dados
para explicar objetivamente porque as elites brasileiras detestam Chávez.
Certos jornalistas e humoristas não sabem o que o povo venezuelano
sabe, sente e vive. Aliás, não sabem nada nem sobre o povo brasileiro. Outro
dia, um de seus amigos pediu socorro para saber o significado de “povo, gente,
emprego”. Mas o povo pobre da Venezuela sabe o que ganhou com Chávez.
Em uma publicação da ONU intitulada Habitat, lançada em agosto do
ano passado, há números e gráficos comparativos do “estado das cidades na
América Latina e no Caribe”. O relatório trata de muitos temas que interessam a
pesquisadores, gestores e moradores de grandes cidades. Seus números ajudam a
entender também por que o povo da Venezuela está nas ruas chorando por Chávez.
As análises contidas no documento da ONU têm qualidade. São
comparações internacionais que possuem grande utilidade. Caracas e as
cidades da Venezuela apresentam números que despertam interesse:
- Em 1999, a Venezuela tinha 49% da sua população urbana em situação de pobreza e indigência. Em 2010, este percentual foi reduzido para 28%.
- Entre 26 cidades selecionadas, o menor índice de Gini entre seus habitantes é o de Caracas, que é inferior a 0,40. No Brasil, é 0,5. Este índice mede a desigualdade de renda.
- Nas cidades da Venezuela, mais de 80% das residências são ocupadas por seus proprietários. Na Colômbia, este número é inferior a 50%. A Venezuela é a melhor neste quesito; a Colômbia, a pior.
- Na América Latina e no Caribe, a proporção de população urbana que tem saneamento está entre 80 e 85%. Na Venezuela, está próxima de 95%. Na Venezuela, 90% da população urbana recebem água encanada.
- De 21 países selecionados, a maior cobertura de coleta de lixo urbana ocorre na Venezuela. A pior está no Paraguai.
- Em 21 cidades selecionadas, mostra-se que o gasto médio mensal de um usuário regular de ônibus; em Caracas, é de 6% do salário mínimo. Em Buenos Aires, se gasta 5% e, em São Paulo e no Rio de Janeiro, 12%.
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