Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania
A Constituição de 1988 dotou o Ministério
Público do Brasil de funções, competências e garantias sem precedentes em
relação às Constituições anteriores. As prerrogativas conferidas à instituição
pelo texto constitucional por certo permitiram um significativo avanço de nossa
ainda imberbe democracia. Contudo, o MP brasileiro se encontra sob ameaça.
O Ministério Público Federal (MPF) é parte do
Ministério Público da União (MPU), também composto pelos Ministérios Públicos
do Trabalho, Militar, do Distrito Federal e de Territórios (MPDFT). Juntos, MPU
e Ministérios Públicos Estaduais formam o Ministério Público Brasileiro.
Atribuições e instrumentos do Ministério
Público estão previstos no artigo 129 da Constituição, no capítulo “Das funções
essenciais à Justiça”. Funções e atribuições do MPU estão na Lei Complementar
nº 75/93.
Os leitores deste blog por certo já leram, nos
preâmbulos das representações ao MPF aqui publicadas, que “O Ministério Público
(MP) é uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis (art.127, CF/88)”.
O MPF é chefiado pelo procurador-geral da
República, escolhido e nomeado pelo presidente de turno após a aprovação de seu
nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal.
Desde a fundação do Ministério Público da
União, determinada pela Carta de 1988, o cargo de Procurador Geral da República
foi ocupado por Geraldo Brindeiro (1995-2003), nomeado por Fernando Henrique
Cardoso, e por Cláudio Lemos Fonteles (2003-2005), Antonio Fernando Barros e
Silva de Souza (2005-2009) e Roberto Monteiro Gurgel Santos (2009- ), todos
nomeados por Luiz Inácio Lula da Silva.
De todos esses procuradores-gerais, somente o
último vem tendo um comportamento que, além de escandaloso, é arrogante e
ameaçador à instituição que chefia. Dirão que o pior PGR foi o de FHC, que
ficou no cargo de ponta a ponta daquele mandato presidencial, tendo engavetado
tudo que não interessava ao governo que o nomeou.
Discordo.
Brindeiro, o inesquecível “engavetador-geral”
da República, teve uma atuação discreta e limitou-se a não fazer nada. Apesar
de ser vergonhosa a atuação daquele indivíduo, passou os oito anos do governo
do PSDB sem ao menos ser notado.
Roberto Gurgel é diferente. Não se limita à
inoperância e vai ao ataque sob um escandaloso viés político-partidário. A
diferença dele para Brindeiro é que este defendeu o governo que o nomeou,
enquanto que o atual PGR se transformou em adversário político de quem o nomeou
e do partido de quem o nomeou.
Esse cargo, explica-se, não pode, em nome do
melhor interesse democrático, ser ocupado nem por aliado, nem por inimigo de
quem o preencheu.
Gurgel, porém, tornou-se infinitamente pior ao
se transformar em ator político, com suas seguidas entrevistas à imprensa
oposicionista, nas quais se converteu em detrator do partido da presidente da
República enquanto, contra si, pesam omissões escandalosas como no esquema do
bicheiro Carlos Cachoeira e suas relações perigosas com o ex-senador Demóstenes
Torres e com o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Denunciando petistas com fúria redobrada e
acobertando demos e tucanos com singeleza e desvelo, Gurgel, agora, chega ao
ponto máximo de sua atuação político-partidarizada no caso do novo presidente
do Senado, Renan Calheiros.
As denúncias contra Calheiros explodiram em
2007, quando deixou o mesmo cargo para o qual acaba de ser empossado no âmbito
de um escândalo que envolveu até uma ex-namorada que se valeu da fama que
interesses políticos lhe delegaram para posar nua para uma revista masculina, a
despeito da ausência de maiores atributos físicos.
Nos últimos cinco anos, a denúncia oportunista
feita contra Calheiros dormitou nos escaninhos da Justiça e do Ministério
Público. A “fartura” de provas contra o senador peemedebista que a mídia
partidarizada alardeia, ao que tudo indica não teria virado denúncia formal se
o mesmo não tivesse se candidatado à Presidência do Senado.
Qualquer cidadão que não seja um completo
cara-de-pau – ou um completo idiota – achará que acatar de repente uma denúncia
que ficou parada por anos, e justamente a uma semana da eleição para a
Presidência do Senado, equivale a transformar a Procuradoria em linha auxiliar
de um grupo político.
Existe alguma dúvida de que a denúncia do PGR
contra Renan Calheiros tramitou em uma semana, após ficar parada durante anos,
só por razões políticas? Quem tem coragem de exibir tanta falta de vergonha na
cara negando que Gurgel transformou o Ministério Público em um organismo
partidarizado e, mais do que tudo, desavergonhado?
É lamentável e altamente danoso à democracia
que uma instituição como o Ministério Público, tão necessária, seja conspurcada
por uma figura menor e que, de forma alguma, reflete o conjunto da instituição,
pois, em verdade, ela abriga muita gente idealista e decente, ainda que,
conjunturalmente, possa estar em minoria.
Conforme bem lembrou o site Brasil 247, caberá
a Calheiros analisar representação do senador Fernando Collor de Mello contra
Gurgel por ter acobertado durante anos o esquema de Carlinhos Cachoeira e as
relações criminosas do ex-membro do Ministério Público e ex-senador Demóstenes
Torres, mas só até que a Polícia Federal fizesse o que o MP não fez.
assou da hora de o Congresso se levantar contra
essa escandalosa utilização política do Ministério Público do Brasil por ação
de alguém que está enlameando e desacreditando a instituição e, assim, todos os
seus membros, cada vez mais vistos como suscetíveis de serem corrompidos por
grupos políticos e econômicos.
O ataque da trinca Ministério Público,
“imprensa” e Supremo Tribunal Federal ao Poder Legislativo precisa de resposta,
razão pela qual até senadores da oposição negaram a essa trinca a prerrogativa
de coagir o Senado a eleger quem preferia para presidir a Casa. Que esse
sentimento prospere e chame Gurgel às falas, em defesa da democracia.
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