Por Paulo
Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
E é anunciada a segunda temporada do seriado
escandinavo The Bridge. Os ingleses ficam felizes. A série passa na tevê
britânica com legendas.
O fato: Bridge pegou.
Saga, a detetive sueca, cabelos loiros sempre soltos,
uma cicatriz no lábio que a torna ainda mais atraente, já rivaliza com Sarah
Lund, de The Killing, outra série escandinava de sucesso internacional.
Antes que eu fale sobre a história, a pergunta
essencial: por que no Brasil não fazemos nada que preste na televisão? Por que
somos humilhados em qualidade até pela Escandinávia com seus recursos
limitados?
Tenho minha tese: a estética da novela massacra a
criatividade. Filmes e séries no Brasil têm uma semelhança irritante com as
novelas da Globo. Mesmos atores, mesmos diretores, mesma limitação, mesma falta
de surpresa e inovação.
O florescimento do cinema e da tv na Escandinávia está
conectado ao grupo Dogma, um conjunto de cineastas iconoclastas e brilhantes
entre os quais se destacava Lars von Trier, um dos últimos gênios da direção.
The Bridge é um dos filhos do Dogma.
Nosso Dogma, lamentavelmente, é a novela das 9. Que não
faz você pensar, e sim tomar cerveja. Me conta um amigo publicitário que em
Avenida Brasil tudo era motivo para tomar cerveja, por causa do dinheiro
colocado pela Ambev não em propaganda direta, mas no controvertido e perigoso
‘product placement’, o popular mercham. Nele, vc consome publicidade disfarçada
no meio do conteúdo.
Quer dizer, os personagens da novela bebiam
desmedidamente cerveja não porque tivessem propensão a alcoolismo, mas por conta
de um contrato milionário firmado pela Globo. Na Inglaterra, bebidas alcoólicas
são proibidas de aparecer subliminarmente, para que não seja estimulado um
hábito ruim para a saúde.
A história de The Bridge gira em torno de um cadáver
descoberto na ponte que liga Suécia e Dinamarca. Dois, na verdade. O corpo
parece ter sido serrado no meio. Mas a perícia logo descobre que a parte de
cima é de uma mulher e a de baixo de outra.
Logo aparece Saga, absolutamente desinibida, e domina a
trama. Quando quer sexo, ela vai a um bar e escolhe um homem. Depois leva para
seu apartamento. Saciada, volta ao trabalho de investigação e esquece o homem.
O melhor diálogo da série é entre ela e seu parceiro de polícia.
“Que você fez ontem?”, ele pergunta.
“Sexo”, ela responde, com a naturalidade que teria se
tivesse dito que foi visitar uma velha tia reumática.
As novelas brasileiras não emburrecem apenas o público.
Também os diretores e atores ficam mais burros.
Tropa de Elite 1 poderia ser a semente de uma
renovação. Mas não foi nada. A sequência já parecia uma paródia. Triunfou o
espírito das novelas.
Maldição eterna a elas.
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