Por Renato
Rabelo
Quantas empresas no mundo podem ostentar a cifra de R$
21 bilhões em lucro líquido? A resposta desta questão pode elucidar sobre o que
está por trás da tentativa, insólita e desonesta, da mídia e da oposição de
desestabilizar não somente a Petrobras e o governo, mas principalmente o nosso
país.
A tática é simples e simplista. Observa-se a queda da
taxa de lucros de uma grande empresa em relação ao ano anterior. O passo
seguinte é espalhar uma onda capaz de atingir milhões de pessoas - utilizando
grandes meios de comunicação e assim provocar uma corrida pela venda de papéis
da empresa e assim beneficiar (financeiramente) a especulação. E a especulação
sobre uma empresa com grandes expectativas de futuro é um negócio muito
rentável, quase risco zero.
Política e especulação financeira andam lado a lado não
somente neste caso. O PSDB governou em função dos interesses da especulação
financeira a ponto de ter transformado o BNDES numa agência de repasse de
dinheiro público ao financiamento de privatizações (e que foi pensado para
financiar a privatização e desnacionalização completa da própria Petrobras).
Sendo a Petrobras um grande símbolo de competência nacional que ganhou muita
força durante o governo Lula, não é de surpreender que os porta-vozes da
privataria tentem utilizar esta grandiosa empresa num dos calcanhares de
Aquiles do governo.
E o oportunismo ganhou relevo diante do “problema”
gerado aos acionistas privados (a União é dona de 50,26% das ações ordinárias e
os acionistas privados contam com 39,6%). É muito claro que com a queda de
rendimentos da empresa é seguida pela queda de lucros dos acionistas privados e
é esse filão que a oposição tenta encampar com o discurso da excessiva
interferência do Estado na Petrobras.
E essa “interferência” do Estado é explicável ao menos
por dois motivos: um é óbvio, pois o controle da maioria das ações pertence ao
Estado, portanto é mais do que normal que o Estado tenha maior poder de
decisão. O outro motivo está relacionado com o fato de nenhuma empresa do mundo
que opera num setor tão estratégico quanto a energia estar fora do escopo da
própria estratégia nacional de seus respectivos Estados Nacionais.
Portanto existe somente uma explicação para este nível
de gritaria: oposição política. Todos querem ter uma carta na manga do porte da
Petrobras, seja para desestabilizar o governo, seja como moeda de troca com os
especuladores e o capital estrangeiro interessados no futuro quase certo de uma
empresa deste nível de solidez. São porta-vozes e herdeiros da privataria e a
Petrobras deve ser a bola de vez desta gente caso alcancem o governo central.
Porém, o campo da análise deve ser mais amplo e deve
envolver que tipo de Estado e projeto de nação queremos – do ponto de vista
estratégico. Existe um fato concreto a ser assinalado: uma potência da estatura
do Brasil, prestes a se transformar num grande produtor e exportador de
petróleo, ainda importa gasolina. Trágico e cômico ao mesmo tempo se esse tipo
de observação não fosse lastreado pela própria explicação dada pela presidenta
da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmando que a queda dos lucros teve
como causa “o aumento da importação de derivados a preços mais elevados, pela,
desvalorização cambial, que impacta tanto nosso resultado financeiro como
nossos custos operacionais”.
Dois problemas objetivos relacionados a falta de
planejamento que acomete nosso Estado desde a década de 1990. Ao invés de
lamentar a desvalorização cambial, dever-se-ia ter uma resposta – buscando
meios e maneiras de aproveitar esta situação criada pelo aumento de demanda de
gasolina e da própria desvalorização cambial – que induzisse a substituição
deste tipo de importação dado o impacto não somente na balança de pagamentos da
Petrobras, mas do país como um todo. Este mesmo raciocínio vale para a dita
“inflação de alimentos” que ocorre num dos gigantes mundiais da produção de
cereais.
O delicado momento político deve servir para sistematização
de um discurso político ofensivo contra a oposição. Mas a história ensina que
momentos-limite são ótimos para se repensar os nossos próprios limites, a
história destes limites e a necessidade de recolocação tática e estratégica.
Certamente, a Petrobras e o governo Dilma estão sofrendo este ataque justamente
num momento de transição na política monetária cuja consequência é a própria
recomposição da política macroeconômica do país diante da herança maldita da
década de 1990.
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