Pular para o conteúdo principal

Garrafas ao mar: um filme imperdível


Tenho insistido com meus alunos sobre a importância de uma boa resenha. Aquela que te apresente um livro, um filme ou um documentário e que te faz a tomar a decisão, ou não, de mergulhar na obra apresentada. Esta "resenha" de Ricardo Kotscho, não só pela forma sucinta e direta no qual apresenta o documentário Garrafas ao Mar, mas sobretudo, ele - que está falando da obra de Geneton, pela sua história no jornalismo ao indicar, a qualifica ainda mais.
  
Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Poder falar de notícias boas dois dias seguidos é muito raro, mas acontece. Acabei de assistir agora ao filme Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças, de Geneton Moraes Neto, na Globo News, uma obra-prima de documentário, aula imperdível de jornalismo e de Brasil.
Em 90 minutos, Geneton resume a vida e a obra de Joel Silveira, "a víbora", o maior repórter brasileiro de todos os tempos. É o resultado de um trabalho que durou 20 anos de entrevistas - o repórter mais novo arrancando do repórter mais velho, passo a passo, com paciência e método, as mais incríveis lembranças sobre os personagens que fizeram a história recente do nosso país.
Da primeira à última cena, músicas, imagens, textos (interpretados por Othon Bastos, Carlos Vereza e Fagner) e depoimentos, tudo na medida certa, no ponto certo, vão nos contando o que aconteceu nos últimos 60 anos no Brasil e no mundo, na visão sempre crítica, irônica, implacável e, ao mesmo tempo, bem humorada, de Joel Silveira.
Geneton acompanhou os últimos anos de vida de Joel até a morte, em 2007, resgatando a memória deste fantástico repórter sergipano, desde a sua vinda do Recife para o Rio de Janeiro.
O volume de informações é tamanho, emendando uma história na outra, que você não consegue despregar os olhos da tela nem para buscar um copo d´água.
Ditadura Vargas, Segunda Guerra Mundial, a vida deslumbrada dos ricos paulistas, o golpe de 1964, histórias de papas e de presidentes, de grandes escritores e vítimas anônimas, tudo vai-se sucedendo com a maior naturalidade, como se fosse um papo de boteco sem hora para acabar.
Os grandes filmes costumam passar primeiro nos cinemas e levam tempo para serem exibidos na televisão. Neste caso, acho que o documentário do Geneton sobre o Joel Silveira deveria fazer a trajetória inversa: ser logo programado para exibição nos cinemas, vendido em DVDs, adotado nas escolas de jornalismo como matéria obrigatória.
Como vocês podem perceber, escrevo este texto encantado com o que acabei de ver nesta manhã de domingo, e ainda mais apaixonado pela profissão de repórter, que nunca vai acabar, enquanto existirem jornalistas com a paixão de Joel e Geneton. Embora cada vez mais raros, eles continuam produzindo matéria-prima para os historiadores do futuro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade: Introdução geral do livro "Por uma outra globalização" de Milton Santos

Por Milton Santos Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mun­do físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente percebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, q...

Preços de combustíveis: apenas uma pequena peça da destruição setorial

Por José Sérgio Gabrielli Será que o presidente Bolsonaro resolveu dar uma reviravolta na sua política privatista e voltada para o mercado, intervindo na direção da Petrobras, demitindo seu presidente, muito ligado ao Ministro Guedes e defensor de uma política de mercado para privatização acelerada e preços internacionais instantâneos na companhia? Ninguém sabe, mas que a demissão do Castello Branco não é uma coisa trivial, com certeza não é. A ação de Bolsonaro, na prática, questiona alguns princípios fundamentais da ideologia ultraneoliberal que vinha seguindo, como o respeito à governança das empresas com ações negociadas nas bolsas, a primazia do privado sobre o estatal e o abandono de intervenções governamentais em assuntos diretamente produtivos. Tirar o presidente da Petrobras, por discordar da política de preços, ameaça o programa de privatizações, pois afasta potenciais compradores de refinarias e tem um enorme efeito sobre o comportamento especulativo com as ações da Petrob...

Brasil perde um dos seus mais importantes cientistas sociais

Por Ricardo Cavalcanti-Schiel Faleceu por volta das 21:30 do dia 26 de março de 213, vítima de um acidente de trânsito no Km 92 da Rodovia Bandeirantes, o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Prof. Dr. John Manuel Monteiro, quando regressava da universidade para sua residência em São Paulo. Historiador e antropólogo, John Monteiro foi um pioneiro na construção do campo temático da história indígena no Brasil, não apenas produzindo uma obra analítica densa e relevante, como também criando e estimulando a abertura de espaços institucionais e de interlocução acadêmica sobre o tema. Não seria exagerado dizer que foi em larga medida por conta do seu esforço dedicado que esse campo de estudos foi um dos que mais cresceu no âmbitos das ciências humanas no país desde a publicação do seu já clássico “Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo” (1994) até o momento. Tendo tido toda sua formação acadêmica nos Estados Unidos (graduado pelo Col...