Por Marco Antonio L. do blog Democracia & Política
“No final dos
anos 80 e na década de 90, a crescente e forte pressão do exterior,
especialmente dos EUA, contra projetos espaciais do Centro Técnico Aeroespacial
(DCTA/FAB) era fato concreto, claro, documentado.
Os Estados Unidos, por diversos meios, já haviam
explicitado, escrito, assinado e carimbado que não aprovavam o desenvolvimento
espacial brasileiro quanto a foguetes de sondagem científicos e a lançadores de
satélites. Documentos formais do Departamento de Estado daquele país isso
claramente manifestavam. Até mesmo, aqueles que nos foram enviados justificando
como “razões de Segurança Nacional” (sic) deles as suas negações aos pedidos do
CTA de importação de rudimentares e inofensivos componentes de uso comum, “de
prateleira”, que o CTA pretendia aplicar em produto espacial.
Quando esses e outros itens embargados eram conseguidos
pelo CTA correta e oficialmente, em outros países, alguns políticos brasileiros
da base do governo demotucano, bem como a nossa americanófila “grande”
imprensa, diziam, errada, acusativa e pejorativamente, e em estranha
coincidência com a posição norte-americana, que a Aeronáutica estava “comprando
no mercado negro”.
Pelo menos, os EUA não colocavam semelhantes obstáculos
para o desenvolvimento brasileiro de satélites pelo INPE. Quiçá, porque já
soubessem que ganhariam muito dinheiro com a colocação em órbita daqueles
pequenos, leves, simples e inofensivos satélites destinados à coleta de dados
ambientais (SCD) (os SCD-1 e 2 eram refletores de sinais desses dados
ambientais enviados de pontos de medição em terra), cujos lançamentos para a
órbita certamente seriam (como foram) comprados pelo Brasil (AEB) no exterior,
na ausência do embargado lançador nacional VLS. Realmente, os EUA vieram a
ganhar, e muito, no lançamento deles.
A suspeita de haver ações dos EUA, lícitas e ilícitas,
contrárias aos nossos projetos de veículos espaciais fora reforçada, nos anos
80, por outro fato. Fora contratada pelo CTA uma empresa norte-americana para efetuar
tratamento térmico em tubos-envelopes dos motores do primeiro estágio do
foguete de sondagem científico suborbital Sonda IV. Aqueles tubos tinham sete
metros de comprimento por um metro de diâmetro (tubos idênticos aos dos seis
motores, de três dos quatro estágios do VLS).
Eram feitos com inovador aço especial de
ultra-alta-resistência desenvolvido pelo CTA/FAB com apoio de indústria
nacional. Aço que veio a ser comercializado pela empresa brasileira que
participara do desenvolvimento. Foi exportado até para os EUA fazerem trens de
pouso dos aviões Boeing.
Após árduas gestões, que consumiram muitos meses, o
governo dos EUA, finalmente, autorizou o embarque dos tubos do Sonda IV para
aquele país. O tratamento térmico foi realizado e pago, mas o governo
norte-americano não permitiu a restituição ao Brasil... Novamente, difíceis
negociações, inclusive diplomáticas. Outros longos meses foram consumidos até a
devolução.
Recebidos e testados em laboratório pelo CTA, foram
descobertos defeitos elementares nos serviços feitos nos EUA no metal de
relativamente muito fina espessura, defeitos que causariam explosão quando se
lançasse os foguetes. Então, com o intelecto e os recursos do CTA/FAB, foi
capacitada tecnológica e industrialmente uma empresa nacional para não mais
dependermos dos EUA naqueles serviços. Foi projetado e construído o maior e
mais moderno forno vertical do hemisfério sul para tratamento térmico em metais
em atmosfera controlada.
Aquele imprevisto e outros injustificáveis embargos dos
EUA retardaram o programa espacial brasileiro completo (MECB)
(satélite-lançador-centro de lançamento) em muitos anos.
Infelizmente, por culpa nossa, ocorreu posteriormente
outra oportunidade perdida pelo Brasil: o estratégico e avançado forno teve que
ser desativado por falta de demanda causada pela restrição quase total de
recursos financeiros e humanos para a área espacial nos dois governos
FHC/PSDB/DEM.
Houve o doloso drástico estrangulamento orçamentário
com a quase extinção do setor espacial brasileiro nos anos 90 (Collor e
FHC/PSDB/PFL-DEM) por ordens de origem (interna ou externa) ainda desconhecida.
A asfixia atingiu, especialmente, as áreas de lançadores de satélites, foguetes
de sondagem científica e centros de lançamento. O governo FHC passou a
direcionar os poucos recursos brasileiros restantes para o projeto
norte-americano da estação ISS e para pequenos e relativamente simples
satélites do INPE (SCD-1 e 2), lançados em órbita pelos EUA a preços abusivos.
As saídas de pessoal dos projetos praticamente extintos
chegou a quase um milhar. Grande parte dos poucos remanescentes engenheiros do
projeto VLS (o governo proibia novas admissões) recebia congelados ínfimos
salários. Os teoricamente 'estagiários' recebiam cerca de R$ 600 e, mesmo
assim, era comum ficarem mais de seis meses sem receber. Os recursos
governamentais foram, praticamente, zerados naquelas áreas (em 1999, o total do
setor espacial no Brasil –INPE, CTA, CLA, CLBI etc--ficou abaixo de 10 milhões.
Ver gráfico abaixo). Os projetos persistiam movidos com calote às indústrias
fornecedoras e pelo patriotismo dos pesquisadores e técnicos que ainda
sobreviviam ao caos no setor causado pelo governo. Cada um passou, também, a
executar tarefas de outras especialidades onde surgiam as perdas de pessoal.
Culminou com grave acidente. Em 2003, um explosivo incêndio na torre de
lançamento, em Alcântara (MA), destruiu a estrutura do VLS, causando a morte de
21 técnicos e especialistas do IAE/FAB. O relatório da comissão da Câmara dos
Deputados que investigou o acidente, relatado por deputado do próprio PSDB,
concluiu que a causa do acidente e das mortes foi o drástico corte de recursos
financeiros e humanos ocorrido nos anos anteriores (nos governos demotucanos).
Houve significativa recuperação dos investimentos a
partir de 2003 (ver gráfico abaixo), porém não se forma em menos de dez, quinze
anos novo quadro de cientistas especializados.
Gráfico dos recursos totais aplicados no setor espacial
brasileiro (picos máximos em 1984 e 2010 e pico mínimo em 1999)
Mesmo com o significativo aumento nos investimentos
desde 2003, o Brasil ainda despende valores muito baixos em comparação com
outros países de porte semelhante (China, Índia) ou até mesmo de economias bem
menores:
INVESTIMENTO ESPACIAL NO MUNDO (2010), em US$ milhões
EUA - 17.600
Europa - 5.350
França - 2.590
Rússia - 2.400
Japão - 2.100
China - 1.300
Índia - 1.010
Irã - 400
Brasil - 343
Comentários
Postar um comentário