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A pressão da mídia pela alta dos juros

Por Altamiro Borges
Nesta semana, os jornalões e as emissoras de tevê fizeram um baita terrorismo sobre o perigo da volta da inflação. Pelas manchetes, editoriais e comentários dos “analistas de mercado” – nome fictício dos agiotas do capital financeiro –, o Brasil está novamente à beira de uma explosão dos preços. O único remédio – receitam os adoradores do “deus-mercado” – é a elevação das taxas de juros. O motivo da gritaria foi o anúncio de que a inflação oficial (IPCA) de janeiro subiu 0,86% - a maior taxa desde abril de 2005.
“Inflação dispara e acende alerta no BC”, foi a manchete da Folha na sexta-feira. O Estadão também esbravejou na capa: “Inflação é a maior em oito anos e mercado prevê alta de juro”. Em outros estados, o mesmo tom apocalíptico nas manchetes. “Inflação assusta o governo e dá um baile na poupança” (Correio Braziliense); “Inflação volta a assombrar” (Estado de Minas). Na TV Globo, os urubólogos de plantão também previram o fim do mundo. O tucaninho Carlos Alberto Sardenberg foi o mais histérico.

De nada adiantaram as ponderações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre as ações do governo para controlar a suspeita alta dos preços dos alimentos em janeiro. Nem mesmo a redução das tarifas de energia elétrica e o adiamento dos reajustes das passagens de ônibus, que terão maior efeito sobre a inflação deste mês, serviram para acalmar a mídia rentista. Ela preferiu, como sempre, basear-se nas previsões pessimistas dos “analistas de mercado”, instigando o clima de pânico e o chamado “efeito manada”.
O resultado do IPCA de janeiro levou a inflação acumulada em 12 meses a alcançar 6,15%, perto da meta fixada pelo governo (6,5%). Mesmo assim, os agiotas do mercado financeiro – e também da imprensa – batem bumbo e já exigem a elevação dos juros. De forma matreira, eles forçam o retorno da política monetária ortodoxa, neoliberal. Os banqueiros e rentistas perderam com a sequência de cortes da taxa básica de juros (Selic) e partem agora para a vingança maligna. Neste esforço, eles contam os serviços inestimáveis da mídia.
A razão desta ofensiva não é somente política – a de desgastar o governo Dilma e, se possível, derrubar o ministro Guido Mantega e o presidente do Banco Central. Ela também é econômica. Como mostra a jornalista Maria Inês Nassif, na sua tese de mestrado intitulada “Os jornais, a democracia e a ditadura do mercado”, os barões da mídia têm fortes ligações com o capital financeiro. Muitos veículos de comunicação inclusive estão pendurados em dívidas nos bancos e hoje, na prática, já são administrados por banqueiros.
Daí a relação promíscua que se estabelece entre os “analistas de mercado” – como já disse, nome fictício dos agiotas do mercado financeiro – e a mídia venal. O terrorismo sobre a volta da inflação visa servir aos interesses mesquinhos dos banqueiros. O pior é que muita gente no governo não tem “sangue frio” e cede rapidinho às pressões do capital. Tanto que já circulam boatos de que o Banco Central voltará a subir a taxa básica de juros na sua próxima reunião. A luta de classes é titânica e quem não chora não mama!

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