Enviado por luisnassif, sab, 30/04/2011 - 11:39
Morre, aos 99 anos, o escritor argentino Ernesto Sabato - O Globo
Janaína Figueiredo
BUENOS AIRES - Faltando menos de um mês para seu centenário (no próximo dia 24 de junho), o escritor argentino Ernesto Sabato morreu na madrugada deste sábado, 30, vítima de uma severa bronquite. Segundo comentaram amigos do autor de "Sobre heróis e tumbas" (1961) e "O túnel" (1948), há muito tempo Sabato tinha dificuldades para respirar "e estava sofrendo". O escritor faleceu em sua casa do bairro de Santos Lugares, na Grande Buenos Aires, onde vivia desde 1945. No mesmo lugar, segundo confirmou recentemente seu filho, o cineasta Mario Sabato, será construído um museu sobre a vida e a obra de um dos escritores mais importantes da Argentina de todos os tempos.
Elvira Fraga, uma de suas grandes amigas, comentou que "Ernesto estava sofrendo faz tempo, mas ainda tinha bons momentos, especialmente ouvindo música". "Ele tinha uma bronquite delicada e muitos problemas para respirar" revelou Elvira, em entrevista ao canal "13" de TV.
O clima no país e, sobretudo, no bairro onde Sabato morou e morreu, era de profunda tristeza. Apesar de alguns capítulos da vida de Sabato terem provocado polêmicas nas últimas décadas, sobretudo após a redemocratização do país, em 1983, a morte do escritor foi lamentada por todos os argentinos. Alguns setores intelectuais questionaram um suposto vínculo de Sabato com os militares que governaram o país entre 1976 e 1983.
No passado, a divulgação de fotos sobre um encontro entre o ex-ditador Jorge Rafael Videla e alguns nomes da cultura argentina na Casa Rosada (palácio de governo), entre eles Sabato, levou escritores como Osvalo Bayer a denunciarem "uma atitude que faz parte da hipocrisia argentina".
Mas a vida de Sabato, que sempre evitou comentar os ataques de seus críticos, também incluiu sua participação como presidente da histórica Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), que durante o governo do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) elaborou e apresentou o famoso documento "Nunca Mais", com informações sobre todos os presos políticos desaparecidos durante o regime militar. Na época, o escritor assegurou que "este tipo de calamidades nunca mais deveria ocorrer em nosso país".
Em sua juventude, Sabato integrou movimentos universitários de tendência comunista e em 1934 viajou a Bruxelas como delegado do Partido Comunista ao Congresso contra o Fascismo e a Guerra. Pouco depois, o escritor instalou-se em Paris, rompeu com o comunismo e só retornou a Buenos Aires em 1940, ano em que casou-se com Matilde, sua grande companheira de vida (já falecida).
Ontem, muitos amigos do escritor lembraram, também, sua formação como físico. Sabato obteve um Doutorado em Física na Universidade Nacional de La Plata e uma bolsa anual para realizar pesquisas sobre radiação atômica no Laboratório Curie, em Paris. O escritor também trabalhou no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Depois vieram os anos de glória como escritor, com a publicação de livros que se transformaram em sucessos internacionais. Em 1975, chegou o Prêmio de Consagração Nacional da Argentina e dois anos mais tarde o Prêmio Medici, na Itália. Em 1991, Sabato recebeu um Doutorado honoris causa da Universidade de Rosario, na província argentina de Santa Fe, e, em 1995, da Universidade de Turin, na Itália. No mesmo ano, o escritor sofreu um dos golpes mais duros de sua vida quando seu filho mais velho, Jorge, faleceu num acidente de automóvel.
Após o retorno da democracia na Argentina, Sabato tornou-se um importante ator político. O escritor, que em 2009 foi declarado cidadão ilustre da província de Buenos Aires, gostava de definir-se simplesmente como um anarquista. Em entrevista ao jornal colombiano "El Tiempo", publicada em 1997, Sabato assegurou que "sou um anarquista! Um anarquista no melhor sentido da palavra. O povo crê que anarquista é aquele que põe bombas, mas anarquistas foram os grandes espíritos como, por exemplo, Leon Tolstoi".
Nos últimos anos, o escritor afastou-se da vida pública e deixou de dar entrevistas. Seus amigos asseguraram ontem "que ele não dedicava tempo aos jornalistas, mas sim as pessoas que sempre o acompanharam".
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