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A bomba de urânio empobrecido na Líbia

Enviado por luisnassif,
24/04/2011

Por Stanilaw Calandreli

Farouk James, allAfrica.com

Retirado do blog INFOWARS.COM

Na noite de 17 de Março de 2011, mantendo a sua 6.498ª reunião, o Conselho de segurança das Nações Unidas aprovou a resolução 1973 (CSNU-1973), que permite uma 'zona de exclusão aérea' na Líbia, autorizando todas as medidas necessárias para proteger os civis, por uma votação de 10 a favor e 5 abstenções.

Mais interessante a observar foi o fato de que entre as cinco abstenções se incluíam dois Estados-Membros permanentes com poder de veto (China e Rússia) e três Estados não-permanentes (Brasil, Alemanha e Índia), que coincidentemente estão competindo para assentos permanentes no Conselho de Segurança. Mais notavelmente, o fato de que os cinco membros do Conselho de Segurança que são membros de um grupo econômico de grandes mercados emergentes com a sigla BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) acontecer de estarem no Conselho ao mesmo tempo é uma coincidência ou uma ocorrência muito bizarra.

A OTAN assumiu o papel de impor a zona de exclusão aérea sobre a Líbia na quinta-feira, 31 de Março de 2011, apesar de divisões internas entre os Estados-Membros da OTAN, mais notavelmente Turquia e Alemanha e assim os vôos diários e bombardeios continuam ininterruptamente desde então. CSNU-1973 forneceu a lógica política e jurídica para as operações de bombardeio pela OTAN sobre a Líbia, com milhares de civis mortos e muitos mais feridos como resultado dos bombardeios diários.

A guerra da OTAN contra o governo soberano da “Great Socialist People’s Libyan Arab Jamahiriya” comprova que esta não é uma guerra humanitária, mas sim para proteger os interesses do Ocidente em torno dos campos petrolíferos, sendo a maioria localizada na parte leste da Líbia, efetivamente dividindo o país em contrariedade ao direito internacional e CSNU-1973. O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu o fim imediato das hostilidades por todos os lados, incluindo a OTAN, que agora está abertamente dando suporte aos rebeldes, com a única intenção de depor o legítimo governo da Líbia a qualquer custo.

O Observador dos Direitos Humanos (HRW) emitiu um comunicado que as forças armadas líbias tinham usado bombas de fragmentação em Misrata. O Governo da Líbia negou estas acusações e desafiou HRW a provar; muito curiosamente nenhuma vítima de bombas de fragmentação foi confirmada em Misrata.

Assustadoramente armas de urânio empobrecido (depleted uranium DU – uma arma moderna feita com urânio exaurido, que os militares dizem não causar efeito radioativo, mas há controvérsias) foram utilizadas na Líbia, tanto por parte dos EUA e, subsequentemente, pela OTAN após assumir o comando e o controle das responsabilidades na zona de exclusão aérea.

A negativa do Pentágono nos Estados Unidos sobre o uso de armas de urânio empobrecido foi recebida com ceticismo. Especialmente considerando-se que os aviões USAF A-10 Thunderbolt (apelidado de warthog) estão sendo usados na Líbia e pelo fato de que os Estados Unidos já tem história de só admitir o uso de material radioativo (DU) meses ou anos depois de terem sido usados. Com base em imagens dos vídeos dos noticiários, é muito provável que o urânio empobrecido tem sido usado mais amplamente do que se pensava originalmente, mesmo porque, no passado, os Estados Unidos lançaram obus, bombas e mísseis cruzadores contendo urânio empobrecido no Afeganistão e no Iraque.

O uso de armas DU quando os EUA destruíram a cidade de Fallujah no Iraque revelou que houve condições terríveis de saúde resultantes do uso destes materiais pelos militares americanos. Fallujah representava um reduto de resistência à invasão das forças dos EUA e a ocupação do Iraque em 2003-04. Foram relatadas altas taxas de câncer, defeitos de nascimento e infecções que são consequências diretas do uso de armas DU.

Além disso, regionalmente, o conflito na Líbia poderia ter um efeito devastador na Niger e em Mali, onde os povos nômades Tuaregues das regiões do Deserto do Saara no Norte de Níger, de Mali e no Sul da Líbia estiveram envolvidos em uma onda de sequestros e levantes armados conhecidos como a "rebelião dos tuaregues'. Isso é especialmente perigoso para o norte do Níger, onde fica a cidade industrial Arlit, localizada na região de Agadez, onde o urânio é extraído por empresas francesas em duas grandes minas de urânio (Arlit e Akouta).

Arlit foi objeto das falsificações sobre o urânio de Níger, quando o Presidente George W. Bush, nos preparativos para a guerra (ilegal) do Iraque em seu discurso no State of the Union de 2003 afirmou, “o Governo Britânico tomou conhecimento de que Saddam Hussein procurou recentemente quantidades significativas de urânio da África,” quando foi alegado que Saddam Hussein tinha tentado comprar pó de urânio 'yellowcake' da Niger durante a crise de desarmamento do Iraque. Estas 16 palavras e a inteligência a este respeito, mais tarde, verificou-se serem infundadas e erroneamente investigadas pelas agências da inteligência americana. Embora, tarde demais para os iraquianos inocentes que perderam suas vidas sobre uma mentira durante os anos de guerra.

O Embaixador Joseph Wilson, que viajou ao Níger para investigar o plano Iraque/yellowcake, concluiu que era altamente duvidoso que tais transações tenham acontecidas, assim limpando Saddam Hussein de qualquer reinicio do programa de armas de destruição em massa (WMD) no Iraque. O Embaixador Wilson foi punido com o desmascaramento de sua esposa, Valerie Plame, como uma agente da CIA, alegadamente trabalhando no escritório do então vice-presidente Dick Cheney na Casa Branca, que foi o enredo do filme 'Fair Game' lançado em 2010.

O que agora é muito óbvio é que os Estados Unidos, o Reino Unido e França estão pedindo uma invasão em grande escala e com toda força à Líbia, à la Iraque, ou, botas no chão. Isto tem implicações para os civis nas cidades que apóiam seu governo legítimo o Coronel Kadhafi, uma vez que é visto como uma revolta popular, quando na verdade limita-se a alguns ' tipos rebeldes ', na cidade de Benghazi. O SAS (Special Air Service) e as Forças Especiais da França têm operado na parte leste da Líbia desde o início e agora estão sendo recrutados mercenários em uma alarmante taxa, sendo declarado a todos o iminente serviço de ação na Líbia, contrariamente ao CSNU-1973.

O mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas tem sido um dinossauro, originalmente criado após a Segunda Guerra Mundial, com cinco membros do Conselho de Segurança permanentes (China, França, Rússia, Reino Unido e EUA) com poder de veto. Até e a menos que a Assembléia Geral das Nações Unidas tome medidas decisivas para abolir a estrutura de cadeiras permanentes e poderes de veto e ainda expandir o número de membros para refletir os continentes, o Conselho de Segurança continuará a servir a poucas e privilegiadas nações, enquanto o resto estão cada vez mais em risco de serem bombardeadas 'legalmente e legitimamente', invadidas e ocupadas sob os auspícios do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Farouk James é um ativista e observador das atividades do Conselho de Segurança das Nações Unidas em termos de operações de manutenção da paz e Agências de Ajuda durante os períodos de catástrofes, fome e os conflitos. Também monitora as atividades de mercenários no Iraque e no Afeganistão, tendo investigado as atividades da Custer-Batles LLC, uma empreiteira de defesa que havia desviado milhões de dólares americanos no Iraque.

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