Pular para o conteúdo principal

Métodos de gestão capitalista para governos de orientação socialista

Achei a discussão interessante e por isso resolvi meter a colher!

O texto foi escrito pelo jornalista Josias de Souza e publicado em seu BLOG, sob o título "PSB flexibiliza ‘socialismo’ e adota tática empresarial". Claro que sobre isso cabe uma boa discussão: até onde o "socialismo" contido no nome do partido é coisa para se levar a sério. Até poucos dias, falava-se de uma possível incorporação do DEMO de Kassab, sob nova denominação, pelos "socialistas". Idéia simpática ao seu presidente. 


Mas o fato é que a idéia de "planejar", o que faz muito sentido, é muito mais cortejada pelas esquerdas, do que pelos partidos de direita. No entanto o que causa calafrios são os métodos emprestado da direita produtivista, que tem na competição e não na cooperação o seu modus operandi. Assim, é realmente estranho que esses dois mundos possam caminhar juntos. Ou é uma grande inovação, daquelas de deixar FHC e os partidários da Terceira Via de queixo caido, ou um engodo, uma forma da rejuvenecer as velhas praticas políticas. Mudar para continuar servindo os mesmos senhores.


Em seu estatuto, o PSB defini-se como uma legenda “socialista”, que se contrapõe ao sistema “capitalista”.


Na prática cotidiana, a agremiação achega-se a personagens tidos por “direitistas”. Na rotina administrativa dos Estados que governa, rende-se aos métodos do capital.


Eleito em 2010, o novo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, mimetiza o estilo do colega Eduardo Campos, reeleito em Pernambuco.


A exemplo do que fizera Campos em seu primeiro mandato, Casagrande estruturou sua gestão servindo-se da orientação do MBC.


A sigla significa Movimento Brasil Competivo. Coisa criada pelo empresário Jorge Gerdau, do Grupo Gerdau.


Assim como em Pernambuco, também no Espírito Santo o governo escorou-se em métodos desenvolvidos por outra entidade: o INDG.


Significa Instituto de Desenvolvimento Gerencial. É comandado pelo engenheiro e consultor Vicente Falconi.


Em essência, o MBC de Gerdau fornece as ideias. E o INDG de Falconi fixa os métodos a serem utilizados para converter as teses em realidade.


Como em qualquer empresa, busca-se melhorar a gestão por meio da fixação de metas e cronogramas.


Em Pernambuco, as metas resultaram na elaboração de 606 cronogramas. Incluem de programas sociais a obras.


Presidente do PSB federal, Campos reúne seus secretários de governo em periodicidade mensal. As reuniões ocorrem numa “sala de situação”.


Há no ambiente três telas. Numa, a ata da reunião anterior. Noutra, os objetivos fixados para cada área. Na terceira, o estágio de execução dos projetos.


O governo capixaba estruturou-se em moldes semelhantes. Casagrande criou o que chama de “mapa estratégico”.


Divide-se em “dez eixos”. Um para cuidar da “atenção integral à saúde”, outro para “prevenção e redução da criminalidade” e assim por diante.


Para cada “eixo” criou-se um comitê, integrado pelos secretários cujas pastas têm relação com o tema.


Em cada comitê, uma carteira de projetos e um “gerente”, para acompanhar a execução das metas, que o governador cobrará em reuniões mensais.


Aqui e ali, integrantes do PSB queixam-se de que o partido cede a métodos neoliberais. Casagrande diz que importam os “resultados”. Campos costuma diz coisa parecida.


O governador pernambucano reconhece que utiliza “ferramentas de gestão próprias de empresas”. São essenciais, diz ele, para fazer “despesa ruim” virar “gasto bom”.


Diz-se que todos os outros governos confiados pelo eleitor ao PSB –Ceará, Paraíba, Amapá...— guiam-se pela mesma cartilha empresarial.


Ao flexibilizar o “socialismo”, o PSB tenta firmar-se na cena política como uma “novidade”. Acha que a aura de modernidade rende votos.


Influente no Nordeste, o partido quer crescer nas regiões Sudeste e Sul. Para atingir essa meta política, não hesita, de novo, em dissolver ideologia num caldeirão de pragmatismo.


No plano federal, o PSB de Campos transferiu para Dilma Rousseff a “fidelidade” que devotava a Lula. Nos Estados, achega-se ao PSDB e a um ilimitado etc.


Participa, por exemplo, dos governos tucanos de Antonio Anastasia (MG), Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR).


Nos últimos meses, o PSB ofereceu à platéia uma evidência de que, para entrar no jogo reservado aos partidos grandes, não observará limites.


Campos achegou-se ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, figura tão distante do socialismo quanto o Sol da Terra.


O presidente do PSB abespinhou-se com Kassab. Acha que o “ex-demo” conduziu mal a operação que resutaria na fusão do novo PSD ao velho PSB.


Para atenuar a má impressão de que urdia com Kassab uma fraude política, a direção do PSB levou o projeto de fusão ao freezer.


Só pretende descongelar a iniciativa depois da eleição municipal de 2012. Fala agora em incorporação do PSD ao PSB, não em fusão.


O flerte com Kassab não constitui novidade. Em 2010, o PSB cedeu sua legenda para que Paulo Skaf, o presidente da Fiesp, disputasse o governo de São Paulo.


Muito antes, em 2002, época em que ainda presidia o PSB o avô de Campos, Miguel Arraes, o partido disputou o Planalto com Anthony Garotinho (RJ), hoje no PR.


Deu a Garotinho uma oportunidade que sonegou, em 2010, a Ciro Gomes (PSB-CE), agora um desafeto de Campos.


Escondido sob as metas empresariais e os métodos conservadores esconde-se o objetivo de sempre: a Presidência da República.


O sonho de Campos é o de tornar-se, ele próprio, candidato ao Planalto. Se Dilma chegar a 2014 bem posta, o PSB vai mirar em 2018.


Ou seja: no médio prazo, a legenda tende a escancarar o antogonismo velado que nutre por PT e PMDB, os dois sócios majoritários do atual condomínio governista.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade: Introdução geral do livro "Por uma outra globalização" de Milton Santos

Por Milton Santos Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são dados de um mun­do físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente percebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes. É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa era globalizada. Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, q...

Brasil perde um dos seus mais importantes cientistas sociais

Por Ricardo Cavalcanti-Schiel Faleceu por volta das 21:30 do dia 26 de março de 213, vítima de um acidente de trânsito no Km 92 da Rodovia Bandeirantes, o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Prof. Dr. John Manuel Monteiro, quando regressava da universidade para sua residência em São Paulo. Historiador e antropólogo, John Monteiro foi um pioneiro na construção do campo temático da história indígena no Brasil, não apenas produzindo uma obra analítica densa e relevante, como também criando e estimulando a abertura de espaços institucionais e de interlocução acadêmica sobre o tema. Não seria exagerado dizer que foi em larga medida por conta do seu esforço dedicado que esse campo de estudos foi um dos que mais cresceu no âmbitos das ciências humanas no país desde a publicação do seu já clássico “Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo” (1994) até o momento. Tendo tido toda sua formação acadêmica nos Estados Unidos (graduado pelo Col...

Preços de combustíveis: apenas uma pequena peça da destruição setorial

Por José Sérgio Gabrielli Será que o presidente Bolsonaro resolveu dar uma reviravolta na sua política privatista e voltada para o mercado, intervindo na direção da Petrobras, demitindo seu presidente, muito ligado ao Ministro Guedes e defensor de uma política de mercado para privatização acelerada e preços internacionais instantâneos na companhia? Ninguém sabe, mas que a demissão do Castello Branco não é uma coisa trivial, com certeza não é. A ação de Bolsonaro, na prática, questiona alguns princípios fundamentais da ideologia ultraneoliberal que vinha seguindo, como o respeito à governança das empresas com ações negociadas nas bolsas, a primazia do privado sobre o estatal e o abandono de intervenções governamentais em assuntos diretamente produtivos. Tirar o presidente da Petrobras, por discordar da política de preços, ameaça o programa de privatizações, pois afasta potenciais compradores de refinarias e tem um enorme efeito sobre o comportamento especulativo com as ações da Petrob...