Por Paulo Moreira Leite
Em abril, quando o Banco
Central debatia a necessidade de elevar a taxa de juros, escrevi aqui neste
espaço.
Permita-me recordar alguns parágrafos:
“Derrotados em agosto de
2011, quando o Banco Central jogou os juros para baixo, nossos rentistas não se
conformam. Possuem um exército de analistas e consultores em militância
permanente para a reabertura do cassino financeiro.
Nos últimos meses, o
grande empresariado obteve mais do que imaginava. O governo desonerou a folha
de pagamentos. Baixou a conta de luz para consumidores e empresas. Abriu concessões
generosas à iniciativa privada na área de infraestrutura. O saldo é um
crescimento econômico, sob novas bases, em torno de 3% e 4%. Não é muito, mas
pode ser um bom começo.
A questão central do
processo é e sempre foi o juro baixo. O consumidor precisa dele para ir às
compras. O empresário também conta com isso para novos investimentos. A certeza
do dinheiro barato estimula o crescimento. A incerteza inspira a retirada, o
medo.
Não é preciso um aumento
grande. Basta um movimento na direção aguardada. O impacto negativo será imenso
e prolongado.
Não se manipula com
expectativas bilionárias impunemente, como num jogo de videogame.
O problema é que o
imenso capital improdutivo brasileiro, aquele que é tão poderoso e que tem
tantas faces invisíveis - muitas só são reconhecidas quando autoridades aceitam
bons empregos ao deixar o governo -, não sabe viver de outra forma. Desfalcado
de uma imensa receita assegurada no mercado financeiro, prepara a revanche.
Está conseguindo colocar
a inflação como ponto essencial da agenda. Quando isso acontece, o cidadão já
sabe. A ‘defesa da moeda’ é a senha cívica para menos empregos, menos
crescimento, menos crédito e menos consumo.
Do ponto de vista
político, é uma armadilha para Dilma, que dentro de um ano e meio enfrentará as
urnas onde vai buscar a reeleição.
Do ponto de vista da
sociedade brasileira, é um retrocesso a um modelo concentrador de renda.
Do ponto de vista
econômico, é um erro trágico e bisonho, que tem um antecedente mortífero.
Em novembro de 2011, o
BC brasileiro cedeu às pressões do rentismo e deu um salto para cima nos juros
– jogando a economia, já em declínio em relação ao ano anterior, num mar de
incertezas e desconfiança. Erro semelhante, no final de 2008, criou amarras
desnecessárias no esforço para livrar o país da catástrofe que se iniciou em
2008. O país recuperou-se em 2010, mas pagou um sofrimento que poderia ter sido
evitado.
Ao explicar o colapso
europeu dos últimos anos, o Premio Nobel Paul Krugmann vai direto ao ponto.
Lembra que o Velho Mundo paga a conta de um Banco Central que fechava os olhos
para o crescimento e tinha uma visão obsessiva pela redução da inflação. O
resultado foi transformar a Europa num grande cemitério de empregos e
esperanças.
Não vamos nos enganar”.
Quando o Banco Central,
enfim, decidiu elevar os juros, ainda escrevi que gostaria de estar errado em
minhas previsões.
O crescimento magérrimo
do primeiro trimestre de 2013 mostra que aquela primeira elevação não
contribuiu – como era previsível – para uma queda significativa da inflação e
pode ter atrapalhado um esforço para retomar o crescimento.
Se os próximos meses
repetirem aquilo que ocorreu neste início do ano, teremos um crescimento anual
de 2,4%.
Mas é possível que
ocorra uma retração ainda maior, pois o BC acaba de elevar os juros em 0,5%. Ou
seja: o dinheiro ficou mais caro, situação clássica para o setor privado
mostrar-se ainda mais cauteloso para aplicações em investimentos produtivos – e
ainda mais tentado para voltar à ciranda financeira.
Há outros complicadores
em frente, também. O juro eleva o gasto do governo com seu financiamento. Tudo
se torna mais caro e difícil de pagar.
O problema é menor
quando o crescimento se mantém num patamar razoável. As receitas sobem e as
contas fecham.
A coisa se complica
quando o crescimento diminui. Podemos apostar que, em breve, as pressões contra
o “déficit”, a “gastança” e todos esses lugares-comuns irão subir de tom.
Nos próximos dias as
pesquisas de confiança do empresário e do consumidor devem apontar uma
previsível queda no otimismo.
Aos poucos, os
adversários do governo irão chegar aonde sempre quiseram. Poderão questionar a
política econômica em sua maior prioridade, que é a distribuição de renda e o
estímulo ao consumo das camadas mais pobres. Mas os adversários não descansam.
Preparam o momento de dizer que não existe almoço grátis.
Você acha que estou
errado?
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